"Ela [Ângela Leão] informou-me: 'Já transferi o valor [para a] sua conta, podes lá ir ver'. Por acaso fui ver e o valor estava lá", declarou Henning.
A arguida, 45 anos, disse que recebeu o dinheiro através de uma empresa de construção civil que realizava obras para a irmã, depois de o montante ter sido transferido para a conta do empreiteiro pelo grupo Privinvest.
O Ministério Público moçambicano acusa a Privinvest, companhia de estaleiros navais com sede em Abu Dhabi, de ter pagado subornos alimentados com o dinheiro das dívidas ocultas para obter aprovação para projetos marítimos do Estado.
Mbanda Henning afirmou que o dinheiro que recebeu da Privinvest correspondeu a um pedido de empréstimo que fez a Ângela Leão, mulher do antigo diretor do Serviço de Informações e Segurança do Estado Gregório Leão (SISE), também arguido no caso.
A transferência do dinheiro foi feita por "instruções" de Ângela Leão ao seu empreiteiro, acrescentou Henning.
A arguida disse ao tribunal que vendeu à irmã um terreno localizado na praia da Costa do Sol, em Maputo, onde pretendia construir 14 apartamentos, mas o projeto acabou "redimensionado" para 10 apartamentos por imposição das autoridades do município de Maputo.
O Ministério Público acusa o casal Leão de ter usado parte dos 8,9 milhões de dólares (7,6 milhões de euros) que recebeu da Privinvest para a edificação dos referidos apartamentos.
Em declarações ao tribunal, Mbanda Henning assinalou que o projeto foi pensado por ela e só vendeu o terreno à irmã devido ao elevado custo da execução das obras.
No âmbito do negócio, Ângela Leão concordou em que a irmã ficaria com sete dos dez apartamentos, disse Henning.
"A Ângela gostou do projeto, eu disse a ela que queria sete apartamentos e ela concordou", frisou.
Na terça-feira, o Tribunal Judicial da Cidade de Maputo vai ouvir um cambista de um estabelecimento em Maputo onde o empreiteiro de Ângela Leão trocava dinheiro depositado pelo grupo Privinvest, para realizar pagamentos de obras feitas a favor do casal Leão.
O Ministério Público acusa o antigo diretor do SISE e a sua mulher de terem recebido de 7,6 milhões de euros de subornos da Privinvest pelo papel que Gregório Leão teve para a aprovação do projeto de proteção da Zona Económica Exclusiva usado como ardil para a contração das dívidas ocultas.
A justiça moçambicana acusa os 19 arguidos de se terem associado em "quadrilha" e delapidado o Estado moçambicano em 2,7 mil milhões de dólares (2,28 mil milhões de euros) - valor apontado pela procuradoria e superior aos 2,2 milhões de dólares até agora conhecidos no caso - angariados junto de bancos internacionais através de garantias prestadas pelo Governo.
As 'dívidas ocultas' foram contraídas entre 2013 e 2014 junto das filiais britânicas dos bancos de investimentos Credit Suisse e VTB pelas empresas estatais moçambicanas Proindicus, Ematum e MAM.
Os empréstimos foram secretamente avalizados pelo Governo da Frelimo, liderado pelo Presidente da República à época, Armando Guebuza, sem o conhecimento do parlamento e do Tribunal Administrativo.
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