"O que é importante nas eleições de domingo, no dia 26, é que todos os partidos que têm hipóteses de integrar um governo são europeus convictos, e são também partidos transatlânticos convictos. Isso é importante. Penso que o papel da Alemanha como motor da agenda europeia continuará a ser sólido", afirmou o embaixador Martin Ney numa entrevista à agência Lusa, a poucos dias das eleições federais na Alemanha, votação que abrirá caminho a um novo ciclo político neste país do centro da Europa, após 16 anos de liderança da chanceler Angela Merkel.
Numa Europa com "imensos desafios pela frente", o representante diplomático frisou que a União Europeia (UE) necessita de fazer "uma análise muito sóbria, não só dos vários domínios e do caráter dos desafios", mas também "dos próprios processos de tomada de decisão em Bruxelas".
"A coesão dentro da UE poderia ser melhor", indicou Martin Ney, frisando: "Precisamos de um sentido de urgência, um sentido de solidariedade e precisamos de olhar para as nossas instituições e tentar perceber como podemos acelerar os processos de tomada de decisão".
Para o representante, tal exercício de introspeção precisa de europeístas convictos e a Alemanha, à semelhança de Portugal que é um "convicto parceiro", preserva essa postura.
"É claro que qualquer novo governo alemão não será imediatamente comparável ao impacto que a chanceler tem após 16 anos no poder", admitiu o embaixador germânico, lembrando como ao longo de vários anos de crises e de ameaças contínuas, como foi o caso da crise da zona euro ou da crise migratória, Angela Merkel focou-se em manter a UE unida.
Em plena contagem decrescente, a corrida eleitoral alemã em curso apresenta-se como uma das mais disputadas dos últimos tempos e com vários cenários de coligação possíveis.
"A novidade das eleições é que, pela primeira vez, já é certo que precisaremos de três partidos para formar um governo", apontou Martin Ney.
As sondagens mais recentes dão uma ligeira vantagem ao Partido Social-Democrata alemão (SPD, na sigla original), cujo candidato a chanceler, o atual vice-chanceler e ministro das Finanças Olaf Scholz, emergiu como o vencedor nos debates televisivos "a três", à frente do líder da União Democrata-Cristã (CDU, força política de Merkel), Armin Laschet, e de Annalena Baerbock, a candidata dos Verdes alemães.
As projeções apontam que o futuro governo alemão será composto por pelo menos três partidos, o que revela que uma reedição da "grande coligação" entre conservadores e sociais-democratas será matematicamente - e também devido ao desgaste político -- bastante improvável.
Um dos possíveis cenários de coligação tem sido mencionado como "Jamaica", uma aliança entre conservadores, verdes e liberais (FDP) que permitiria ao líder da CDU, Armin Laschet, liderar uma coligação governamental.
À Lusa, o embaixador alemão apontou a complexidade das negociações para constituir uma futura coligação governamental, advertindo que o processo poderá levar algum tempo.
"Mas temos noção da urgência, porque no início de janeiro teremos a presidência do G7 [os sete países mais ricos do mundo] e, portanto, precisamos de sentarmo-nos para dialogar e formar um governo com relativa rapidez", concluiu.
Leia Também: Na Alemanha, AfD quer ser herói nos próximos quatro anos