O presidente da Associação Nacional de Médicos Residentes (NARD, na sigla em inglês), Dare Ishaya, citado pela agência Associated Press, disse que os médicos irão retomar as atividades na quarta-feira, depois de "terem alcançado alguns resultados positivos" nas negociações com o Governo.
Alguns médicos, com salários em atraso, já estão a ser pagos, todavia, segundo o presidente da NARD, "algumas das principais exigências que levaram à greve não foram ainda atendidas".
Dentro das reivindicações incluem-se atrasos nos pagamentos de ordenados, alguns há mais de um ano, manutenção do subsídio mensal de risco sanitário no valor de 5.000 nairas nigerianas (10,46 euros), apenas revisto em 1991, o não cumprimento, em algumas regiões do país, do pagamento do salário mínimo nacional de 30.000 nairas (cerca de 63 euros) aos profissionais de saúde, e o cumprimento da promessa governamental de uma indemnização às famílias dos médicos que morreram na luta contra a covid-19.
Segundo Dare Ishaya, os médicos decidiram retomar os serviços, após uma pausa que se verificava desde agosto, porque o país enfrenta a terceira vaga da pandemia. "Cerca de 20 dos nossos colegas morreram em consequência da pandemia", adiantou.
Os médicos nigerianos têm vindo a ameaçar com regularidade entrar em greve. Reclamam que não existem camas, medicamentos e 'kits' de proteção suficientes nas instalações hospitalares.
Em resposta, o Governo ameaçou substituir os médicos que não regressassem ao trabalho.
Em 17 de setembro, o tribunal diferiu um pedido apresentado pelo Governo que ordenou aos médicos que cancelassem a greve, que tinha sido iniciada em 02 de agosto. Ambos continuam a negociar, mesmo que o caso ainda esteja em tribunal.
A Nigéria, um país de 200 milhões de pessoas, tinha 42.000 médicos generalistas registados em 2019, segundo a Associação Médica Nigeriana (NMA, na sigla em inglês), o que resulta numa média de dois médicos para cada 10.000 habitantes.
Quando ocorreram os primeiros casos do novo coronavírus no país, em março de 2020, o médico Francis Faduyile, presidente da NMA, afirmou que "entre 70% e 80% das instituições de saúde pública não tinham água corrente ou água limpa suficiente para lavar as mãos".
O ministro da Saúde da Nigéria ainda não respondeu a todas as exigências.
Em 2021, o financiamento para o Ministério da Saúde foi apenas 4% de todo o orçamento nacional, ou seja 549,8 mil milhões de nairas (1,15 mil milhões de euros). Foram concedidos mais 70,2 mil milhões de nairas (147,54 milhões de euros) devido à pandemia, mas essa atribuição é ainda consideravelmente inferior à recomendação da União Africana para que os governos aumentem as despesas com os cuidados de saúde em 15% durante a pandemia.
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