A morte de Alexandre Mendonça foi confirmada à Agência Lusa por fontes próximas do sacerdote, precisando que esteve internado em setembro por motivos relacionados com a Covid-19 e que teve uma recaída que o levou novamente a uma clínica de Caracas.
Alexandre João Mendonça de Canha, nasceu em São Pedro do Funchal, Madeira e emigrou para a Venezuela aos 12 anos de idade, onde se fez sacerdote, concretizando "a coisa mais linda e importante" da sua vida.
"A minha vocação nasceu comigo, desde que abri os olhos ao mundo sempre quis ser sacerdote, mas só aos 26 anos é que entrei para o seminário por causa da difícil situação económica dos meus pais" explicou à Agência Lusa durante a celebração do aniversário da sua ordenação sacerdotal.
Mas, Alexandre Mendonça tinha ainda um outro motivo de alegria, inspiração e paz, os presépios. Era detentor de uma coleção de quase 400 exemplares, de diferentes tamanhos e países.
Desde a chegada da pandemia da covid-19, em março de 2020 que passava os dias fechado, na parte residencial da Ermida de Nossa Senhora de Coromoto e Fátima, em San Bernardino, cujos acessos foram restringidos por ficar no começo da Avenida Boyacá, uma autoestrada que une, pelo norte, o oeste e o leste de Caracas.
Mesmo assim, aos fins de semana, gravava missas que fazia chegar à comunidade portuguesa através do WhatsApp.
"A pandemia da covid-19 é uma desgraça a nível mundial, mas uma desgraça maior para a Venezuela, por esse mar de carências praticamente em todos os âmbitos", desabafou em uma oportunidade à Agência Lusa.
Mendonça mostrou-se preocupado, várias vezes, pelas carências da comunidade lusa local e pela situação de insegurança no país, chegando mesmo a afirmar que "a pior desgraça da Venezuela é que estamos destruindo, não estamos construindo, e até que não se reencontrem todos como um só povo haverá realmente situações muito difíceis".
O sacerdote alertava ainda que a situação polarizada, com discursos extremados entre os apoiantes do governo e da oposição, aumentava o caos no país.
Devoto de Nossa Senhora de Fátima, Mendonça, abriu as portas da Missão Católica Portuguesa para acolher dezenas de compatriotas que perderam as suas casas e familiares durante as enxurradas de finais de 1999 no estado venezuelano de Vargas.
Durante mais de 15 anos foi mentor de Campo Rico, uma paróquia popular de gente muito pobre e exerceu funções como ecónomo do arcebispado de Caracas, diretor da Casa Sacerdotal (que acolhe sacerdotes doentes) e capelão de vários organismos de segurança pública venezuelanos.
Em dezembro de 2016, o arcebispo de Caracas, Jorge Urosa Savino (1942-2021), conferiu-lhe o título honorífico de cardeal.
Em junho de 2019, foi condecorado com a Medalha de Mérito das Comunidades Portuguesas, durante em ocasião do Dia de Portugal, aproveitando a ocasião para apelar aos lusitanos a dar atenção aos mais vulneráveis, em particular os anciãos luso-venezuelanos.
Mendonça foi condecorado como comendador da República de Portugal (1997) e com a ordem Cecílio Acosta em primeira classe (1999) pelas autoridades do Estado de Miranda (Venezuela). Em 2006 foi declarado "madeirense ilustre" e agraciado com uma medalha e um galardão pela Comissão Pró- Celebração do Dia da Região Autónoma da Madeira em Caracas.
Presidiu a Fundação Virgem de Fátima e foi assessor do Movimento Sacerdotal Mariano. Também foi guia espiritual de associações de beneficência e colégios, do Centro Português (Macaracuay) e do Centro Marítimo da Venezuela (Turumo).
Também recebeu a Cruz da Polícia Metropolitana de Caracas, em segunda e terceira classe.
Em 2006 foi condecorado pelo Centro Português de Caracas com a Ordem Grande Cordão João Fernandes de Leão Pacheco.
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