O anúncio da Casa Branca acontece quando as clínicas do Texas começam a ficar sem meios para impedir a aplicação da lei redigida pelo Partido Republicano que proíbe o aborto logo que haja atividade cardíaca detetada, o que geralmente ocorre às seis semanas de gravidez.
Tal como está desenhada, esta lei é a maior restrição ao aborto nos Estados Unidos em quase 50 anos.
A mais recente derrota para as clínicas aconteceu na noite de quinta-feira, quando um painel federal de recurso em Nova Orleães, numa decisão de dois votos contra um, permitiu que as restrições permanecessem em vigor pela terceira vez nas últimas semanas.
O porta-voz do Departamento de Justiça dos EUA, Anthony Coley, disse que o Governo federal pedirá agora ao Supremo Tribunal para reverter essa decisão.
O Governo do Presidente Joe Biden estava sob pressão de defensores do direito ao aborto, que pedem à Casa Branca para recorrer ao Supremo Tribunal, depois de o sistema de justiça ter permitido que as restrições entrassem em vigor, mas sem se pronunciarem sobre a constitucionalidade da lei.
Desde que a lei entrou em vigor, em 01 de setembro, as mulheres do Texas têm procurado clínicas de aborto em Estados vizinhos, sujeitando-se a longas viagens, em algumas situações, já que a norma não admite exceções, nem sequer para casos de estupro ou incesto.
O gabinete do Procurador-Geral do Texas já veio defender esta legislação do Partido Republicano: "É um testamento de que estamos do lado certo da lei e da vida".
Uma decisão de 1992 do Supremo Tribunal impediu os Estados de proibir o aborto antes do momento em que um feto pode sobreviver fora do útero, por volta das 24 semanas de gravidez.
Mas a versão legislativa do Texas contornou os tribunais, transferindo a aplicação para os cidadãos, em que qualquer pessoa que apresente uma ação judicial contra uma clínica por violação da lei, tem o direito a receber pelo menos 10.000 dólares (cerca de 8.500 euros), o que o Governo federal diz ser o equivalente a uma recompensa.
Antes da entrada em vigor desta lei, algumas clínicas do Texas apressaram-se a realizar abortos em pacientes nas últimas seis semanas, mas muitas outras consultas foram canceladas depois de as autoridades terem decidido aplicar a legislação.
O Texas tinha cerca de duas dúzias de clínicas de aborto, antes da lei entrar em vigor, e várias já admitiram que poderão ser forçadas a encerrar, se as restrições permanecerem em vigor por muito mais tempo.
Nos próximos meses, há outra situação relevante para o futuro do direito a abortar nos Estados Unidos: em dezembro, a nova maioria conservadora no Supremo Tribunal analisará uma proposta do Estado de Mississípi para ignorar a o precedente histórico do caso Roe v. Wade, que garante o direito da mulher ao aborto.
Na quarta-feira, 18 procuradores-gerais estaduais de Estados controlados pelo Partido Republicano deram novo alento à lei do Texas, pedindo aos tribunais para aplicarem restrições ao aborto, enquanto acusaram o Governo federal de exceder a sua competência.
O procurador-geral dos EUA, Merrick Garland, classificou a lei como "claramente inconstitucional" e alertou para o facto de ela poder se tornar um exemplo em qualquer parte do país, a menos que seja anulada.
Leia Também: Tribunal Federal de recurso dos EUA defende a lei do aborto no Texas