Cerca de vinte congressistas progressistas e centristas devem ter reuniões separadas com Biden, para analisarem uma lista de estratégias alternativas para redução daquelas emissões, na que foi uma das mais cruciais questões para os votantes que apoiaram o presidente e o seu partido.
Entre as propostas em consideração estão um imposto sobre emissões de carbono, a identificação de um custo para as de metano, benefícios fiscais para os fornecedores de energia que cumpram determinados requisitos e outras.
O objetivo é garantir o apoio de congressistas determinantes, cujo votos vão ser decisivos nas decisões a tomar até ao final do mês.
O principal plano de Biden parece estar morto. Um congressista chave, o democrata conservador Joe Manchin, eleito pelo Estado da Virgínia Ocidental, cuja economia tem um peso importante do carvão, deixou claro que se opõe à proposta de Biden de dar apoios financeiros aos produtores de eletricidade que atinjam referências de energia limpa e penalizar os que fiquem aquém, conforme o objetivo de atingir 80% de "eletricidade limpa" até 2030.
As estratégias alternativas pretendem alinhar com o proclamado objetivo de Manchin de ter uma política federal "neutral" para os combustíveis, que não favoreça as fontes de energia renovável em relação ao carvão e gás que são dominantes no seu Estado.
Biden quer apresentar progressos no seu conjunto de investimentos, com que pretende expandir serviços sociais e desenvolver esforços contra o aquecimento global, quando se prepara para ir a Glasgow participar na 26.ª Conferência das Partes (COP26) da Convenção-Quadro da Organização das Nações sobre as Alterações Climáticas (UNFCCC, na sigla em Inglês).
Entretanto, a dimensão financeira do pacote de investimentos foi revista em baixa para quase metade, de 3,5 biliões (milhão de milhões) de dólares (três biliões de euros) para dois biliões.
E Biden não está sozinho naquela vontade.
Ao final de segunda-feira, o senador Bernie Sanders, independente eleito pelo Estado do Vermont que preside à comissão do Orçamento, disse a jornalistas, quando o Congresso retomou trabalhos, que "é tempo que pôr isto de pé" e acrescentou que esperava ver "alguma ação real na próxima semana".
Enfrentar as alterações climáticas tem sido uma pedra de toque da proposta presidencial 'Build Back Better' (Reconstruir Melhor), o abrangente plano de Biden para aumentar os apoios federais em cuidados de saúde e infantis, bem como outros serviços sociais, e responder à rutura climática, considerada pelos votantes democratas um dos problemas mais importantes com que se debatem.
Porém, sem o apoio de Manchin, o designado Plano de Desempenho da Energia Limpa deve ser eliminado do pacote.
O senador democrata Sheldon Whitehouse, eleito pelo Estado de Rhode Island, revelou: "Tenho dito que seria prudente procurar alternativas".
Créditos fiscais à produção de energia renovável e taxar emissões de carbone e metano são algumas das mais significativas em discussão.
É com este contexto doméstico que Biden se prepara para ir a Glasgow, no final do mês, e reclamar uma posição de liderança internacional na resposta às alterações climáticas.
Contudo, o seu enviado para a crise climática, John Kerry, já alertou para um fracasso no Congresso.
O congressista democrata Ro Khanna, eleito pelo Estado da Califórnia, já disse que tenciona pressionar para as estratégias relacionadas com o problema climático avancem.
"Vou deixar claro que acabar com os subsídios aos combustíveis fósseis é uma das nossas principais prioridades", disse, ao final de segunda-feira, com membros do grupo Our Revolution (A Nossa Revolução), alinhado com Sanders.
Khanna admitiu os problemas com a proposta da produção de eletricidade limpa: "Se é inaceitável, que digam que alternativa nos faz cumprir o objetivo de redução em 50% das emissões, com que nos comprometemos".
Durante meses, Manchin rejeitou pública e repetidamente a dimensão e a escala do plano de Biden, com o senador, do Estado comum forte peso do carvão, a objetar em particular contra as estratégias de energias renováveis.
Ele e outra senadora democrata de cariz conservador, Kyrsten Sinema, eleita pelo Estado do Arizona, forçaram Biden a concede que a dimensão financeira do seu pacote de investimentos seria muito menor, em torno dos dois biliões -- a pagar por aumento de impostos sobre as empresas e os indivíduos que recebam mais de 400 mil dólares por ano.
Enquanto presidente da comissão da Energia e dos Recursos Naturais, Manchin está a testar a paciência dos seus correligionários, que veem aqui a oportunidade de uma geração para moldar políticas públicas comprometida pelas suas preferências pessoais.
Com os republicanos opostos na sua totalidade aos planos de Biden, este precisa de todos os votos dos democratas no Senado, que está dividido literalmente ao meio, com 50 senadores de cada partido, para os aprovar.
Em artigo recente, colocado na sua 'newsletter' disponibilizada em linha, Robert Reich, ex-ministro do Trabalho durante a Presidência Clinton e professor em Berkeley, classificou o comportamento de Manchin como o mais "nauseabundo" que conheceu em Washington: "Eu cheirei o fedor da fossa em Washington, mas isto está entre o mais nauseabundo".
No seu texto, intitulado "Quem paga a Manchin?", Reich acrescentou que a posição deste "tresanda" a dinheiro.
Na sua indagação sobre as causas da posição de Manchin, Reich excluiu a defesa dos seus votantes, que, pelo contrário, são dos que mais beneficiariam com as propostas de Biden.
Afastada a defesa dos cidadãos da Virgínia Ocidental das eventuais explicações, Reich perguntou se a posição de Manchin se explica por ter ações, entre um milhão e cinco milhões de dólares, na Enersystems, uma empresa que fundou em 1988 para negociar em carvão, que lhe rendeu dividendos de meio milhão de dólares em 2020, cerca do triplo do salário de senador (174 mil dólares no ano passado).
Ou seria ainda, acrescentou Reich, por Manchin ser o senador dos EUA que mais contributos financeiros recebe das empresas de carvão, petróleo e gás?
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