Figura de destaque da edição deste ano da Web Summit, que termina nesta quinta-feira, Ayo Tometi falou em vários formatos ao longo do certame, com o entusiasmo de quem se considera "futurista".
De ascendência nigeriana e nascida nos Estados Unidos, onde vive, a co-autora da hashtag #Blacklivesmatter, criada em 2013, na sequência da absolvição de George Zimmerman pela morte a tiro do jovem afroamericano Trayvon Martin, e que depois se transformou num movimento global, esteve na abertura da Web Summit (Lisboa), na arena central, em conferência de imprensa.
"Porque as vidas negras importam. Elas sempre importaram", assinalou a ativista, sublinhando que existem muitos "sistemas enformados por ideologias racistas", que "normalizam" o racismo estrutural.
De todas as vezes, Ayo Tometi insistiu na necessidade de "responsabilizar" os diversos agentes sociais, instando-os a "estarem do lado certo da justiça".
Até porque, na arena pública de hoje, "é fácil falar" e disseminar mensagens simbólicas e rápidos chavões ('soundbites') nas redes sociais.
Mas, e depois? "Não basta falar, é preciso 'walk the talk' [demonstrar]", frisou, reclamando uma "ação substantiva que acompanhe os gestos simbólicos".
Isso passa por "pedir contas" pelas palavras que se dizem, porque o combate ao racismo estrutural "envolve todos e cada um", insistiu.
"Temos de reconhecer que todos temos responsabilidade, no setor público, no setor privado, nos media. Ser antirracista não é só dizer 'não sou racista' ou 'eu até tenho amigos negros', há que agir ativamente", distinguiu.
Tometi celebra as vitórias e a força do Black Lives Matter, mas reivindica "mais poder político para conseguir mudanças significativas". Até porque o movimento "não é só sobre negros", mas abarca todos "os invisíveis".
Neste contexto, a tecnologia desempenha um papel crucial e "ainda há muito a fazer" para que esta possa servir os direitos humanos e a justiça social.
As redes sociais são disso exemplo, a começar pelo Facebook (agora Meta), que "tem ainda um longo caminho pela frente para garantir a segurança das comunidades marginalizadas na esfera pública", para que possa, efetivamente, "amplificar histórias" protegendo quem as assume ou conta e garantir "locais seguros" para documentar e partilhar denúncias.
"O Facebook é uma plataforma muito vulnerável e, por isso, preocupa-me especialmente, até porque permite que os ativistas de direitos humanos sejam um alvo através de si", frisou, confessando que deixou de usar esta rede social "para fins pessoais".
De qualquer forma, a tecnologia não é suficiente para "revolucionar" o mundo. "São pessoas verdadeiras e comprometidas que produzem a mudança. As ferramentas são importantes, mas não são tudo", situou.
Tometi criticou ainda "a retaliação" de que foram alvo os media e os jornalistas que cobriram o Black Lives Matters, dando eco aos seus protestos e "a ativistas negros que tiveram a ousadia de vir a público".
A ativista recordou "a brutalidade" da reação contra os media, que considera "um dos aspetos mais perturbadores e alarmantes" dos últimos anos. "A imprensa foi atacada por fazer o seu trabalho", lembrou, sublinhando o papel dos media em democracia.
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