"Se os oceanos não forem fragilizados, eles vão poder ser um elemento fundamental na luta das alterações climáticas", disse Tiago Pitta e Cunha à Agência Lusa, à margem da 26.ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP26).
Porém, considerou que, enquanto "a ação climática está de facto a tornar-se mais importante, está no centro da agenda internacional, a ação oceânica ainda não está em lado nenhum".
Hoje é o dia dedicado ao Oceano na COP26, mas o tema oficial do programa é juventude e capacitação da sociedade civil.
O presidente executivo da Fundação Oceano Azul lembrou que na COP25, em Madrid, em 2019, foi declarada solenemente a ligação entre o clima e o oceano, mas sublinhou que o assunto não está suficientemente em destaque na cimeira climática de Glasgow.
"Falar em clima e não falar do oceano é impossível, porque o oceano é um dos principais fatores nesta dinâmica toda das alterações climáticas. É basicamente graças ao oceano que a humanidade não sofreu com as alterações climáticas porque ele absorve dióxido de carbono e 90% do aquecimento global", argumentou.
Pitta e Cunha defendeu uma discussão urgente pela comunidade internacional para tomar medidas como a proteção da biodiversidade, o fim da exploração de gás e petróleo 'offshore', o controlo das pescas e a prevenir a poluição marítima.
Portugal vai ser anfitrião da 2.ª Conferência dos Oceanos em junho de 2022, inicialmente prevista para 2020 mas adiada dois anos consecutivos por causa da pandemia covid-19.
O encontro é coorganizado com o Quénia e a ONU e pretende definir ações com vista ao cumprimento do ODS14, o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável dedicado à proteção da vida marinha na Agenda 2030 das Nações Unidas.
"Como o mar não pertence a ninguém, ainda há aquela perceção de que não é preciso tratar do mar, que temos que tratar agora das florestas. Eu acho que o mar não pode esperar", avisou.
A Fundação Oceano Azul foi criada pela Sociedade Francisco Manuel dos Santos e é presidida por José Soares dos Santos, membro da família que controla o grupo Jerónimo Martins. É concessionária do Oceanário de Lisboa.
Mais de 120 líderes políticos e milhares de especialistas, ativistas e decisores públicos reúnem-se até 12 de novembro, em Glasgow, na Escócia, na COP26 para atualizar os contributos dos países para a redução das emissões de gases com efeito de estufa até 2030.
A COP26 decorre seis anos após o Acordo de Paris, que estabeleceu como meta limitar o aumento da temperatura média global do planeta a entre 1,5 e 2 graus celsius acima dos valores da época pré-industrial.
Apesar dos compromissos assumidos, as concentrações de gases com efeito de estufa atingiram níveis recorde em 2020, mesmo com a desaceleração económica provocada pela pandemia de covid-19, segundo a ONU, que estima que, ao atual ritmo de emissões, as temperaturas serão no final do século superiores em 2,7 ºC.
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