"A terrível crise humanitária e de direitos humanos que começou há um ano em Tigray alargou-se a outras zonas do país", advertiu num comunicado Deprose Muchena, diretor regional da AI a para África Oriental e Austral.
Segundo a organização não-governamental (ONG), o estado de emergência, declarado pelo parlamento federal da Etiópia em 04 de novembro (quando se completa um ano desde o início do conflito), "é excessivamente genérico porque se estende a todo o país e restringe direitos humanos que, segundo o Direito Internacional, não podem ser limitados ou limitados em nenhuma circunstância".
"É um plano para a escalada de violações dos direitos humanos como a detenção arbitrária, especialmente de defensores dos direitos humanos, jornalistas, minorias e de quem critica o Governo, e coloca os detidos sob o risco acrescido de serem submetidos a torturas e outros maus-tratos", acrescentou Muchena.
A ONG de defesa dos direitos humanos manifestou-se ainda preocupada por as autoridades etíopes terem pedido recentemente à população civil que pegue em armas para ajudar a combater os rebeldes da Frente Popular de Libertação de Tigray (TPLF, na sigla em inglês), depois destes terem anunciado a intenção de tomar a capital, Adis Abeba.
A organização registou um aumento significativo de publicações nas redes sociais em que se incita à violência e se utilizam comentários ofensivos de natureza étnica contra pessoas da província de Tigray.
Na quarta-feira, a rede social Facebook eliminou uma publicação do primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, em que este pedia aos etíopes que prevenissem, revertessem e enterrassem a terrorista TPLF, por considerar que violava as suas políticas contra o incitamento e apoio à violência.
O conflito em Tigray começou em 04 novembro de 2020 e teve uma escalada nos últimos meses.
Abiy Ahmed, vencedor do Prémio Nobel da Paz de 2019, declarou a vitória em 28 de novembro após enviar o exército para a região para retirar as autoridades dissidentes da TPLF, a quem acusou de atacarem as bases militares federais.
Mas em junho, os combatentes da TPLF assumiram controlo da maior parte da região.
O Governo retirou as suas tropas e declarou um cessar-fogo unilateral em 28 de junho, mas os rebeldes continuaram a sua ofensiva nas regiões de Afar e Amhara.
Desde então, os combates alastraram-se aos estados vizinhos de Afar e Amhara e prosseguem agora em direção à capital etíope. As forças federais etíopes têm contrariado as ofensivas rebeldes sobretudo através da força aérea.
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