A cimeira do clima das Nações Unidas (COP26) adotou formalmente a declaração final da COP26, com uma alteração de última hora proposta pela Índia que suaviza o apelo ao fim do uso de carvão.
"Peço desculpa pela forma como este processo foi desenvolvido. Peço imensa desculpa. Também percebo a profunda desilusão. Mas também é crucial que protejamos este acordo", afirmou, na sessão final, parando por momentos a intervenção para se recompor.
No final, disse que a versão revista da declaração final foi aprovada com alterações feitas oralmente, e encerrou oficialmente as discussões, batendo com o martelo.
A proposta de alteração foi feita pelo ministro do Ambiente indiano, Bhupender Yadav, que no plenário de encerramento pediu para mudar a formulação de um parágrafo em que se defendia o fim progressivo do uso de carvão para produção de energia sem medidas de redução de emissões.
A Índia quis substituir o fim progressivo - "phase-out" por uma redução progressiva - "phase-down" -, uma proposta que foi aceite com manifestações de desagrado de várias delegações, como a Suíça, e a União Europeia, e ainda de países mais vulneráveis às alterações climáticas.
A chefe da delegação da Suíça, Simonetta Sommaruga, não hesitou em "expressar profunda desilusão" pela alteração, lamentando que a linguagem sobre o fim dos subsídios aos combustíveis fósseis tenha "diluída como resultado de um processo pouco transparente".
"Vamos ser claros: não precisamos de fazer 'phase-out', mas de fazer o 'phase-down' dos subsídios ao carvão e combustíveis fósseis. Foi-nos dito que não seriam aceites alterações ao texto apresentado pelo presidente quando tentámos fechar uma lacuna", vincou.
Falando também em nome do Environmental Integrity Group (EIG), grupo que inclui a Coreia do Sul e México, entre outros, Sommaruga disse que não se opunha porque "não queria arriscar sair de Glasgow sem um resultado".
Liechenstein e México queixaram-se de terem sido excluídos das negociações e de esta alteração ser uma "pílula envenenada", e os representantes das ilhas Fiji e de Antigua e Barbuda destacaram as consequências das alterações climáticas para os territórios insulares.
Mas foi a enviada especial para o Ambiente das Ilhas Marshall, Tina Stege, que foi mais incisiva, ao dizer que a referência inédita ao carvão no texto tinha sido uma das poucas vitórias da Conferência.
"Era uma das poucas coisas que queríamos levar daqui de volta para casa com orgulho. E agora vemos essa luz diminuída", lamentou, acrescentando que só aceitava a alteração "apenas", e sublinhou "apenas", porque "existem elementos críticos deste acordo" que as pessoas do seu país "precisam para sobreviver".
O vice-presidente da Comissão Europeia encarregado das questões climáticas, Frans Timmermans, também criticou a insistência da Índia em proteger o uso do carvão, algo que, argumentou, "não tem futuro" nem é "uma proposta económica inteligente".
"Isto não nos deve impedir de aprovar hoje uma decisão história", concluiu.
A 26.ª conferência do clima das Nações Unidas (COP26) decorre seis anos após o Acordo de Paris, que estabeleceu como meta limitar o aumento da temperatura média global do planeta entre 1,5 e 2 graus celsius acima dos valores da época pré-industrial.
Apesar dos compromissos assumidos, as concentrações de gases com efeito de estufa atingiram níveis recorde em 2020, mesmo com a desaceleração económica provocada pela pandemia de covid-19, segundo a ONU, que estima que ao atual ritmo de emissões, as temperaturas serão no final do século superiores em 2,7 ºC.
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