Em declarações à agência AFP, o chefe de redação da equipa em Havana da agência de notícias espanhola Efe, Atahualpa Amerise, disse que as autoridades cubanas "convocaram com urgência" os cinco jornalistas, designadamente três redatores, um fotojornalista e um repórter de vídeo, e "pediram para devolver as credenciais".
A situação ocorreu no sábado, a dois dias da manifestação marcada pela oposição, para segunda-feira, para exigir a libertação dos prisioneiros políticos, e já levou o Ministério das Relações Exteriores espanhol a pedir explicações à embaixada de Cuba, em Madrid.
"Quando lhes perguntamos os motivos, invocaram o regulamento da imprensa estrangeira", acrescentou Atahualpa Amerise, sem especificar a razão exata da decisão que os proíbe de exercer a profissão de jornalista em Cuba.
O chefe de redação da equipa da Efe em Havana referiu ainda que perguntou às autoridades cubanas se a retirada das credenciais de imprensa seria uma situação temporária ou permanente, ao qual lhe disseram que "de momento não iriam responder".
Neste âmbito, a UE pediu hoje "esclarecimentos" às autoridades cubanas sobre a retirada das credenciais de imprensa da equipa da agência Efe em Havana, o que acredita que poderá significar uma "grave violação da liberdade de expressão".
"Vimos a informação. Estamos a investigar e a solicitar esclarecimentos às autoridades cubanas e estamos em contacto com a Efe ", disse Nabila Massrali, porta-voz do alto representante da UE para a Política Externa, Josep Borrell, em declarações à agência de notícias espanhola Efe.
"A confirmar-se isso, significaria uma grave violação da liberdade de expressão", alertou Massrali.
Também hoje, a Federação Internacional de Jornalistas (FIP) condenou a retirada por Cuba das credenciais de imprensa da equipa da agência Efe em Havana e considerou que esta medida "é um atentado inaceitável à liberdade de informação".
"Exigimos que o Governo cubano devolva as credenciais de imprensa e permita que todos os jornalistas trabalhem livremente", afirmou o secretário-geral da FIP, Anthony Bellanger, em declarações à Efe.
O Ministério das Relações Exteriores espanhol convocou hoje o encarregado de negócios da embaixada cubana em Madrid, responsável máximo da legação na ausência de um embaixador, para solicitar explicações sobre a medida que Cuba está a tomar pela primeira vez contra a Efe e que não há registo de ter sido adotada noutra ocasião com uma agência internacional de notícias.
Além disso, a embaixada da Espanha em Havana está a negociar com as autoridades cubanas a devolução das credenciais aos jornalistas da Efe para que possam realizar o seu trabalho, informaram fontes oficiais.
A decisão de retirar as credenciais de imprensa à equipa da Efe em Havana ocorre num momento delicado em Cuba, com uma marcha cívica convocada pela oposição para a próxima segunda-feira, a fim de exigir uma mudança política na ilha e a libertação dos presos políticos, manifestação que foi proibida pelas autoridades cubanas que acusam os organizadores de serem pagos pelos Estados Unidos para tentar derrubar o regime.
Na sexta-feira, o Presidente cubano, Miguel Díaz-Canel, disse que os seus apoiantes estão "prontos para defender a revolução", face à manifestação planeada pela oposição para segunda-feira, para exigir a libertação dos prisioneiros políticos.
Miguel Díaz-Canel afirmou que Cuba enfrenta "uma estratégia do império [Estados Unidos] para tentar destruir a revolução", mas assegurou que o país está preparado para a defender.
Também na sexta-feira, a administração norte-americana exortou o Governo cubano a permitir a marcha cívica e a evitar o uso de violência, ameaçando com novas sanções caso haja repressão sobre os manifestantes.
Na quinta-feira, Yunior Garcia, um dramaturgo de 39 anos, principal organizador da manifestação de 15 de novembro, anunciou a intenção de marchar sozinho no domingo numa avenida em Havana, em vez de na segunda-feira, como previsto no apelo à manifestação, para evitar qualquer violência.
Garcia denunciou ter sido ameaçado pela polícia com a prisão se levasse a cabo o projeto.
Os promotores da manifestação mantiveram no entanto o apelo para a realização do evento, na segunda-feira.
O apelo para participar no protesto ocorre num cenário de profunda crise económica, quatro meses após as históricas manifestações antigovernamentais de 11 de julho, quando milhares de cubanos saíram às ruas gritando "Liberdade" ou "Estamos com fome".
Essas manifestações resultaram numa morte, dezenas de feridos e na detenção de 1.175 pessoas, 612 das quais continuam presas, de acordo com a organização não-governamental (ONG) de direitos humanos Cubalex.
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