"É pouco provável que as restrições às viagens tenham um impacto importante a longo prazo no calendário ou em intensidade em comparação com a rigorosa implementação local das intervenções não-farmacêuticas [medidas restritivas], particularmente tendo em conta o domínio da variante Delta em todos os países da UE/EEE [União Europeia e Espaço Económico Europeu]", declara o responsável pelo departamento de doenças contagiosas e epidemias do ECDC, Ole Heuer, em entrevista por escrito à agência Lusa, em Bruxelas.
Para Ole Heuer, "as restrições às viagens seriam importantes se implementadas muito cedo, de forma consistente e completa, e se houvesse provas de circulação de uma nova variante da SARS-CoV-2, particularmente de uma variante de fuga imunitária, para atrasar a sua introdução".
Ainda assim, "durante as viagens, as medidas de proteção devem ser mantidas, independentemente do estatuto de vacinação do viajante", argumenta o especialista, exortando que "se utilizem máscaras faciais, se evitem os ajuntamentos e se mantenha a distância física, bem como se aposte numa melhor ventilação nas estações e nos modos de transporte como aviões, comboios, autocarros".
A UE enfrenta atualmente um elevado ressurgimento das infeções por SARS-CoV-2, que provoca a covid-19, com os internamentos, as entradas nos cuidados intensivos e o número de mortes também a aumentar, situação causada pela dominância da variante Delta (mais contagiosa) e pela descida das temperaturas, mais propícia a doenças respiratórias.
Por estes dias, e também a pensar na época de festividades de fim de ano, vários países europeus reintroduzem medidas restritivas, principalmente para não vacinados, com a obrigação de apresentação de passe sanitário (comprovativo de vacinação ou teste) para acesso a determinados locais públicos, como a Alemanha ou Bélgica.
Já a Áustria, que começou por confinar os não vacinados, estendeu agora o confinamento a todos e tornou a vacinação obrigatória no país, sendo o primeiro país europeu a fazê-lo.
Questionado sobre estas medidas restritivas mais direcionadas para pessoas que optaram por não se vacinar, Ole Heuer afirma que "alcançar camadas de indivíduos não vacinados é vital para aumentar a cobertura vacinal e a proteção contra doenças graves, internamentos e mortes".
Porém, "não existe uma abordagem única para aumentar a vacinação nas diversas populações", já que se trata de "uma questão complexa e com razões subjacentes a uma menor utilização a variar consideravelmente entre países e dentro de cada país", ressalva o especialista.
Ole Heuer lembra, ainda, que "diferentes países relataram [ao ECDC] ter adotado uma série de estratégias para chegar aos indivíduos e grupos populacionais com baixo nível de vacinação", tentando "adaptar as diferentes medidas com base nos fatores responsáveis por essa baixa adesão, tais como [...] a desinformação, a desconfiança ou a falta de informação clara".
Por essa razão, "algumas destas estratégias incluíram equipas ou clínicas de vacinação móveis, estratégias de comunicação direcionadas e iniciativas de sensibilização", exemplifica o especialista, falando ainda na introdução de incentivos à vacinação e na vacinação obrigatória de trabalhadores da saúde.
Criado em 2005, o ECDC é uma agência europeia de aconselhamento aos países para reforço da capacidade de defesa da Europa contra as doenças infecciosas.
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