É o país onde foi descoberta a variante Ómicron do novo coronavírus e que está sob escrutínio global.
Estacionado no Chimoio, centro de Moçambique, o malauiano descreve que o pânico se deve ao alerta máximo para possíveis riscos de reinfeção.
Um alerta que ouve por parte das autoridades de saúde de todo o mundo, após a Organização Mundial da Saúde (OMS) classificar de "preocupante" o grande número de mutações apresentadas na nova variante.
"Fui imunizado com vacinas dentro do plano da empresa, mas sempre estive inseguro e temo ficar de novo infetado", disse.
"Por isso este pânico e o medo de poder transportar essa variante Ómicron para casa", acrescentou à Lusa.
O camionista ficou em isolamento duas vezes em finais de 2020 no Maláui, no regresso da África do Sul, e a terceira vez aconteceu no início do ano na Zâmbia, após cruzar a fronteira da República Democrática do Congo (RDCongo).
Em meados de novembro, esteve por uma semana na província de Gauteng, na África do Sul, poucos dias antes de a variante ser identificada.
Antes de chegar a Moçambique, já passou pelo Zimbabué.
"Desde que fiquei infetado redobrei as minhas medidas de higiene. Nunca me faltam álcool gel nem máscaras no camião".
"Não 'apanho' pessoas na rua, preparo as refeições sozinho", explicou Efraim Adisa, referindo, no entanto, que às vezes tem de "enfrentar filas" e esse é "o pior inimigo nas fronteiras", porque força aglomerações, disse.
"Eu rezo para não apanhar essa variante, que me preocupa", disse Efraim Adisa, encostado ao camião em Chimoio, a capital de Manica, atravessada pelo corredor da Beira, que liga o porto da cidade costeira no oceano Índico aos países do interior africano.
Um outro camionista, Edward Chionera, entende que a variante Ómicron coloca novos desafios ao grupo para a maior responsabilidade na higienização - única recomendação das autoridades - por estes estarem a cruzar com frequência países vizinhos da África do Sul.
"Quase que circulamos por todos os países da região a entregar cargas e se quisermos garantir o emprego somos obrigados a aceitar as rotas", disse à Lusa o zimbabueano.
"Somos acompanhados pelo medo em todas as viagens, medo de levar o vírus e só sentimos alívio quando somos liberados para casa, no regresso da viagem", acrescentou.
Já o moçambicano Francisco Eugénio, observa que a frequente convivência entre camionistas da região, sempre "levanta o medo" de alguém passar a carregar o vírus, particularmente quando se "trata de uma variante que os próprios médicos consideram de muita preocupação".
"Você cruza qualquer fronteira sem ânimo desde que eclodiu essa doença, porque sempre vivemos na incerteza, sobre 'se levei ou não o vírus para o meu país ou do meu para o outro país'".
"E, pior ainda, para casa", enfatizou Francisco Eugénio, que construiu um quarto isolado no seu quintal para se acomodar sempre que regressa de viagens, antes de se juntar a família.
Os serviços provinciais de Saúde de Manica continuam a fazer campanhas sobre as medidas de prevenção do novo coronavírus, nomeadamente junto de grupos de risco, tais como prostitutas, nas paragens dos camionistas.
As zonas de descanso ao longo da N6 e N7, no corredor da Beira, foram mapeadas para evitar paragens aleatórias e voluntários fazem medição de temperatura, rastreio de doenças respiratórias e encaminham casos suspeitos para unidades sanitárias.
Moçambique tem um total acumulado de 1.941 mortes e 151.652 casos de covid-19, 98% dos quais recuperados e nove internados.
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