Após vários meses de investigação, um grupo de advogados e peritos de direitos humanos, reunido em Londres, concluiu na quinta-feira que a forma como a China trata os uigures corresponde a um genocídio, o que suscitou a cólera de Pequim.
Questionado sobre o assunto, um porta-voz do Alto-Comissariado da ONU para os Direitos do Homem, em Genebra, Rupert Colville, não quis comentar a questão do "genocídio", indicando que a organização ainda não tinha verificado as conclusões do documento.
Em todo o caso, disse que "o 'tribunal uigure' evidenciou novas informações profundamente perturbadoras sobre o tratamento dos uigures e outras minorias étnicas muçulmanas no Xinjiang", uma vasta região no oeste da China.
"Em termos de conteúdo -- estamos a examiná-lo, é um longo documento -, já identificámos esquemas similares de detenção arbitrária e maus-tratos em instituições, práticas de trabalho forçado e uma erosão dos direitos sociais e culturais", acrescentou.
No relatório, com 63 páginas, os peritos reunidos em Londres indicaram que não têm provas de massacres da minoria muçulmana uigure, mas que "os elementos de um genocídio intencional", como definidos pela Convenção para a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio da ONU, estavam "estabelecidos".
Os EUA já afirmaram que o tratamento dos uigures corresponde a um "genocídio" e anunciaram um boicote diplomático dos próximos Jogos Olímpicos de inverno, que decorrem entre 04 e 20 de fevereiro, em Pequim, com vários outros países ocidentais.
A responsável da ONU pelo dossier dos Direitos Humanos, Michelle Bachelet, exige desde há anos a Pequim que lhe permita "um acesso significativo e sem entraves" ao Xinjiang, mas nenhuma visita deste tipo foi possível até agora, declarou Colville.
Pequim recusa qualquer inquérito da ONU e argumenta que toda a visita à região deve ser "amistosa".
Segundo organizações de direitos humanos, pelo menos um milhão de uigures e outras minorias turcófonas, principalmente muçulmanas, estão encarcerados, em campos de detenção no Xinjiang.
Pequim contesta e contrapõe que se trata de centros de formação profissional destinados a afastar as pessoas do terrorismo e do separatismo.
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