Transparência deve ser "compensada e não castigada"

O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS) apelou hoje ao fim da "desigualdade vacinal" e criticou as restrições impostas aos países onde foi detetada uma nova variante, cuja transparência devia ser "compensada e não castigada".

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Lusa
16/12/2021 17:53 ‧ 16/12/2021 por Lusa

Mundo

Covid-19

Tedros Adhanom Ghebreyesus falava na sessão de encerramento da primeira Conferência Internacional sobre Saúde Pública em África (CPHIA, na sigla em inglês), transmitida online desde segunda-feira e seguida por 16.000 participantes.

Recordou os mais de cinco milhões de vidas que a covid-19 ceifou e os danos nas vidas e na economia, mas sublinhou o progresso alcançado, que permitiu, no período de um ano, a existência e distribuição de vacinas, numa campanha sem precedentes na história da humanidade.

Contudo, lamentou que esta distribuição não esteja a ser equitativa, com o continente africano a ficar-se pelos 8% da população vacinada.

Ainda assim, sublinhou os resultados obtidos, nomeadamente nas últimas semanas em que a Covax (iniciativa global de aquisição de vacinas para distribuição aos países mais pobres) enviou mais vacinas do que durante o ano inteiro.

Tedros Adhanom Ghebreyesus mostrou-se confiante de que será alcançado o objetivo de a população vacinada no continente africano atingir os 40% até ao final do ano e 70% até meados de 2022.

O responsável agradeceu à África do Sul e ao Botsuana pela pronta deteção e sequenciação da nova variante Ómicron, para a qual as autoridades sanitárias sul-africanas deram o alerta, a 24 de novembro.

A este propósito, referiu-se às restrições que estes países sofreram pela parte de outros Estados como "injustas".

"Alegra-me ver que alguns países levantaram as restrições. Precisamos compensar a transparência e não castigar, mas os nossos sistemas não promovem que os países alertem os outros e isso tem custos", disse.

Tedros Adhanom Ghebreyesus disse ainda que a covid-19 revelou que "a produção nacional deve ser uma prioridade nacional", incentivando à fabricação em África.

"Mais do que qualquer outra crise, a covid-19 veio lembrar-nos que o bem mais precioso do mundo é a saúde", disse, elencando um conjunto de prioridades: conjugação para uma melhor resposta à pandemia, investimento na pesquisa, ciência e capacidade local de produção e, por último, investimento no atendimento de saúde primário para disponibilizar um atendimento médico.

"A saúde não é um luxo, mas é um direito fundamental humano" e o continente africano "deve investir em saúde", concluiu.

Nesta sessão final da CPHIA, John Nkengasong, diretor do Centro Africano para Controle e Prevenção de Doenças (Africa CDC, na sigla em inglês), um dos organizadores do evento, juntamente com a União Africana (UA), escolheu a determinação dos participantes em promover uma "nova ordem" na saúde pública em África como o aspeto mais importante do evento.

Nkengasong sublinhou a qualidade dos cientistas que existem em África e "a ciência de boa qualidade" que se faz no continente para justificar o necessário envolvimento na definição de um investimento no futuro que passe, por exemplo, pela produção local de vacinas.

"O continente precisa de aproveitar mais os seus recursos, capacidades e infraestrutura para fazer avançar cuidados de saúde" no contexto da pandemia de covid-19, mas não só.

Olive Shisana, especialista em saúde pública, da presidência sul-africana, defendeu o atendimento médico gratuito para todos os africanos e enalteceu uma "nova ordem de saúde pública", que permita a concretização dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

"Os africanos precisam de desenvolver o seu próprio destino", referiu, defendendo mão firme contra a corrupção.

No final da cerimónia de encerramento da conferência, o ministro da Saúde do Ruanda, Daniel Ngamije, frisou a importância de o continente garantir que não é mais deixado para trás.

E anunciou que a próxima CPHIA irá realizar-se no Ruanda, o país das mil colinas.

A covid-19 provocou pelo menos 5.320.431 mortes em todo o mundo desde o início da pandemia, segundo o mais recente balanço da agência France-Presse.

A doença respiratória é provocada pelo coronavírus SARS-CoV-2, detetado no final de 2019 em Wuhan, cidade do centro da China, e atualmente com variantes identificadas em vários países.

Uma nova variante, a Ómicron, classificada como "preocupante" pela Organização Mundial da Saúde (OMS), foi detetada na África Austral, mas desde que as autoridades sanitárias sul-africanas deram o alerta, a 24 de novembro, foram notificadas infeções em pelo menos 77 países de todos os continentes, incluindo Portugal

Leia Também: Etiópia. OMS preocupada com bloqueio governamental na região de Tigray

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