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Guiné-Bissau: 2022, um ano entre os desafios e a desconfiança

O analista Diamantino Domingos Lopes olha para 2022 na Guiné-Bissau como um ano "desafiador" com "estagnação política" e "muita desconfiança" entre os protagonistas.

Guiné-Bissau: 2022, um ano entre os desafios e a desconfiança
Notícias ao Minuto

09:55 - 20/12/21 por Lusa

Mundo Guiné-Bissau

"Vai ser um ano desafiador, considerando o fecho de 2021 com muitos eventos políticos e sociais. É um ano em que se espera muitos desenvolvimentos políticos, não se sabe é os contornos que deverão ter, vai depender muito do desfecho dos resultados que sairão dessas atividades políticas", afirmou à Lusa o analista político.

O analista referia-se à realização dos congressos dos principais partidos com representação parlamentar, nomeadamente do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), previsto para o final de janeiro ou início de fevereiro, e do Movimento para a Alternância Democrática (Madem-G15), que se deverá realizar em setembro.

"As consequências aparecem depois, em função dos resultados que vão sair dos eventos políticos internos", afirmou Diamantino Domingos Lopes.

Para o analista, 2022 "não vai ser muito diferente de 2021" do ponto de vista político e só poderá ser diferente caso as "expectativas" de queda do Governo ou do parlamento se concretizem.

"Isso poderia animar o ano de 2022 não pela certeza, mas pela imprevisibilidade considerando todos os fatores à volta", afirmou, referindo-se a possíveis novas alianças.

Mas, para isso, segundo o analista, era preciso haver mudanças na liderança do PAIGC, o que não prevê que aconteça.

"Por isso vamos estar nesta situação de estagnação política e não haverá grandes novidades. Há um nível de crispação política elevado e uma certa dose de desconfiança entre os atores", afirmou.

Diamantino Domingos Lopes salientou que vai ser um "momento de muita desconfiança que apela à assertividade".

"As ações têm de ser assertivas, qualquer deslize pode ter consequências imediatas com os resultados. As alianças não vão falar muito alto, porque cada partido vai ter de trabalhar para a sua mesa, no sentido de manifestar a sua expressão política, a sua participação no processo, os seus contributos, ganhos políticos", afirmou.

A Guiné-Bissau vai realizar legislativas em 2023. As últimas decorreram em março de 2019 e foram ganhas pelo PAIGC, que não está no poder.

Para o analista político, vai também ser um ano de mobilização de votos, mas não a partir do bem-estar social.

"A tentativa de mobilização de voto vai ser através de ganância e manipulação do eleitorado. Vão aparecer múltiplas acusações, ninguém vai assumir a responsabilidade, e a sociedade também não vai assumir as suas responsabilidades. Vai ser um momento de festas e essa diversão faz com que a sociedade perca a reflexão do essencial e passa o tempo na diversão política", afirmou.

Para o analista, poucos vão refletir sobre o ensino público, a precariedade da saúde e laboral, os impostos, sobre o impacto da covid-19.

"Poucos vão refletir sobre isso, o que ajuda os atores políticos porque falta uma consciência crítica no sentido de exigir responsabilidades. Quando não há essa exigência, os atores políticos ficam tranquilos e trabalham nas perspetivas das limitações da sociedade", afirmou.

Salientando que a sociedade não tem uma educação sólida, o sociólogo afirmou que a reflexão política "traduz-se numa perspetiva de fanatismo e é mais complicado quando envolve questões étnicas e religiosas".

Questionado sobre se 2022, ano pré-eleitoral, vai dar mais impacto às questões étnicas e religiosas, Diamantino Domingos Lopes considerou que sim porque "já se percebe que o discurso fundamentado na questão étnica terá sempre resultados".

"São elementos que provocam a desunião, a divisão e o conflito social numa sociedade que é de certo modo homogénea, o que é o grande trunfo", afirmou, sublinhando que a convergência sócio étnica acaba por minimizar o impacto do conflito.

"Vai ser um ano difícil e os que falam e fazem comentários têm de desconstruir qualquer discurso de divisão e esclarecer a sociedade. Temos de ter consciência da limitação e ajudar as pessoas a darem saltos qualitativos", afirmou.

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