Analistas defendem prorrogação da presença de forças estrangeiras

Analistas ouvidos pela Lusa defenderam a extensão da presença das forças estrangeiras que apoiam Moçambique no combate ao terrorismo em Cabo Delgado, norte do país, alertando para a importância da discussão sobre o alastramento do conflito para novas províncias.

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Lusa
11/01/2022 06:19 ‧ 11/01/2022 por Lusa

Mundo

Moçambique/Ataques

"O mandato da Missão Militar da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral em Moçambique [SAMIM, na sigla inglesa] não é restritivo. Ele não se restringe a província de Cabo Delgado. Na verdade, o mandato prevê que se apoie Moçambique na luta contra o terrorismo e, portanto, há sempre espaço para esta discussão", disse Egna Sidumo, pesquisadora do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais da Universidade Joaquim Chissano.

O tema está na agenda da cimeira extraordinária que arranca hoje no Maláui para debater a missão militar que apoia Moçambique no combate ao terrorismo em Cabo Delgado, num momento em que há sinais de alastramento da insurgência para a província do Niassa, vizinha de Cabo Delgado, com ataques esporádicos a pontos recônditos que já provocaram a fuga de cerca de 3.000 pessoas.

Para a pesquisadora moçambicana, as novas incursões de grupos armados no Niassa revelam a necessidade de uma estratégia militar mais "alargada", principalmente porque sempre houve condições para o alastramento de movimentos extremistas na região Norte.

"Desde o início deste debate, nós sempre fizemos referência a esta possibilidade. Vendo atualmente o que está a acontecer no Niassa, que vai crescendo gradualmente, notamos que há uma necessidade em termos forças na região. Podem até não ser forças de combate direto, mas forças preventivas", frisou a pesquisadora.

Para o diretor da organização não-governamental Centro de Integridade Pública (CIP), Edson Cortez, os resultados obtidos com a presença de forças estrangeiras em Cabo Delgado nos últimos meses provam que a prorrogação da sua permanência é fundamental, destacando a necessidade de uma análise profunda sobre as novas incursões no Niassa.

"As forças estrangeiras melhoraram o cenário na província de Cabo Delgado, ajudando a controlar pontos que haviam sido perdidos pelo exército moçambicano. Mas isso não significou o fim do cenário de guerra no Norte de Moçambique, com destaque para o que está a acontecer no Niassa. Apesar de o cenário ter melhorado, há ainda muito por fazer e isso prova que é preciso prorrogar a sua presença", declarou Edson Cortez.

Embora destaque a importância de um olhar profundo sobre o alastramento do conflito, o diretor do CIP entende que Moçambique tem de começar a investir no seu próprio exército, evitando ficar sempre refém de outros estados, que, por vezes, têm os seus próprios interesses.

"Não podemos estar sempre a contar com forças estrangeiras. Nós pagamos impostos e julgamos que o nosso Estado pode garantir a segurança dos seus cidadãos. Caso contrário, brevemente estaremos a pedir forças estrangeiras para nos ajudar a proteger todo o país", declarou Edson Cortez.

Por seu turno, o jornalista moçambicano Fernando Lima entende que a questão mais importante neste momento a ser debatida nesta cimeira está ligada à extensão da permanência das forças estrangeiras, lembrando que o alargamento das operações para o Niassa tem outras implicações (políticas e financeiras)

"Em termos estratégicos, isto tem outras implicações: alargar a presença de tropas estrangeiras em território moçambicana significa limitação da soberania", declarou Fernando Lima.

Para o jornalista, Moçambique só vai recorrer às forças estrangeiras para fazer face às incursões armadas numa nova província quando estiver evidente a incapacidade do seu exército, o que ainda não está claro.

"Para já, acredito que esta questão não vai estar na mesa [na cimeira]", frisou Fernando Lima.

Os sinais de alastramento do conflito no norte de Moçambique começaram em dezembro e o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, prometeu que os rebeldes vão ter "a resposta que merecem", admitindo que as novas incursões naquela província estavam as ser promovidas por insurgentes que fogem das ofensivas das forças governamentais em Cabo Delgado.

A cimeira extraordinária que arranca hoje é presidida pelo chefe de Estado do Maláui, Lazarus Chakwera, que é atualmente o presidente em exercício da SADC, e vai debater a missão militar da SADC que apoia Moçambique no combate a grupos armados em Cabo Delgado.

A província de Cabo Delgado é rica em gás natural, mas aterrorizada desde 2017 por rebeldes armados, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.

O conflito já provocou mais de 3.100 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED, e mais de 817 mil deslocados, de acordo com as autoridades moçambicanas.

Desde julho, uma ofensiva das tropas governamentais com apoio do Ruanda a que se juntou depois a SADC permitiu aumentar a segurança, recuperando várias zonas onde havia presença de rebeldes, nomeadamente a vila de Mocímboa da Praia, que estava ocupada desde agosto de 2020.

Leia Também: Moçambique. Conflito em Cabo Delgado "agravou-se" em novembro

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