A versão curta do relatório de Sue Gray sobre as festas em Downing Street, uma peça importante para o futuro de Boris Johnson à frente do Reino Unido, foi finalmente publicada, e descreve um cenário de alcoolismo e falta de profissionalismo na residência oficial do primeiro-ministro.
Depois de vários dias de especulação sobre o que conteria o relatório de uma das funcionárias mais reputadas do serviço civil britânico Whitehall, as 12 páginas do texto concluem que as festas são "difíceis de justificar", e "há muito para aprender".
"Com o pano de fundo da pandemia, quando o governo estava a pedir aos cidadãos para aceitar restrições nas suas vidas, alguns destes comportamentos nestas festas são difíceis de justificar", critica Gray.
A funcionária responsabiliza o governo por não ter noção da realidade que as pessoas estavam a passar e descreve um clima de forte festa, advertindo que "o consumo excessivo de álcool não é apropriada a qualquer local de trabalho".
"Têm de ser garantido que todo o departamento governamental tem uma política clara e robusta sobre o consumo de álcool no local de trabalho", exige.
As acusações e descrições feitas no relatório acabam por ser mais duras do que se poderia pensar, tendo em conta a influência que a Polícia Metropolitana de Londres tentou ter na quantidade de conteúdo que Gray poderia revelar. Resta saber o impacto que isto terá na permanência de Boris Johnson no governo.
A funcionária que tem investigado vários escândalos na política britânica também nota que o número de funcionários em Downing Street, no gabinete do primeiro-ministro Boris Johnson, tem aumentado "consistentemente" nos últimos.
Numa dura crítica à estrutura de Johnson, Gray escreve que "as estruturas de liderança estão fragmentadas e complicadas e isto, por vezes, levou a um branqueamento da responsabilização".
"Alguns membros do staff queriam levantar preocupações sobre comportamentos que testemunharam no trabalho, mas sentiram-se incapazes de o fazer", acrescenta.
Festas no jardim ocorreram sem autorização
Muitas das imagens sobre as festas de Downing Street apontava para um jardim das traseiras com ajuntamentos e garrafas. Gray descreve que "o uso do jardim deve ser para o uso primário do primeiro-ministro e dos moradores dos números 10 e 11" mas, apesar de concordar com o uso do jardim como local de trabalho em tempo de pandemia, aponta que "o jardim foi usado para ajuntamentos sem autorização".
Segundo Sue Gray, há agora 12 festas a ser investigadas, que ocorreram espalhados ao longo de 20 meses - uma delas é o aniversário de Boris Johnson. Deixa ainda uma palavra de elogio ao povo britânico, dizendo que enquanto o país "esteve à altura do desafio" na resposta à pandemia, "um número de ajuntamentos não deviam ter sido permitidos".
Sobre as investigações, o relatório aponta para a influência que a polícia londrina teve no processo, acrescentando que este texto agora publicado teve limitações.
"Disseram-me que seria apropriado fazer referências mínimas sobre as festas que estão a investigar. Infelizmente, isto implica que estou extremamente limitada sobre o que posso dizer sobre estes eventos e não é possível neste momento acrescentar e analisar informação factual que recolhi", diz.
"Há muito a aprender com estes eventos que têm de ser abordados por todo o governo. Isto não pode esperar pelo fim das investigações", recomenda Gray.
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