"As novas vítimas morreram no hospital de Bule devido aos graves ferimentos que sofreram na cabeça. (...) Na maioria dos casos, foram feridos com catanas", disse o coordenador dos grupos da sociedade civil na província de Ituri, Jean-Bosco Lalo.
"Acho que o número de mortos vai ainda aumentar", lamentou.
Jean-Bosco Lalo tinha anunciado na quarta-feira que pelo menos 54 civis morreram durante o ataque, cometido por milicianos da Cooperativa para o Desenvolvimento do Congo (Codeco) no campo de refugiados conhecido como Plaine Savo, em Ituri.
Os milicianos, cujo ataque também causou 36 feridos, incendiaram as tendas de lona que os refugiados usavam como alojamento.
De acordo com Lalo, alguns dos feridos foram transferidos para outros hospitais pelos veículos dos "capacetes azuis" da ONU, que montaram na região um sistema de combate com efetivos do exército da RDCongo para tentar expulsar os rebeldes.
Na quinta-feira, o secretário-geral da ONU, António Guterres, "condenou veementemente" o ataque e pediu às autoridades congolesas democráticas que investiguem "os incidentes e responsabilizem judicialmente os seus autores".
A milícia Codeco, que alega defender os interesses da comunidade Lendu e ataca principalmente membros da comunidade Hema, é um grupo rebelde criado em 2018 com o objetivo de lutar contra os abusos das forças armadas governamentais, embora seja responsável pelo assassínio de muitos civis e multiplicou os ataques em 2021 na província de Ituri.
Em meados de novembro de 2021, presumíveis rebeldes da Codeco atacaram vários assentamentos de deslocados internos também em Ituri, matando dezenas de pessoas, ações que o Alto-Comissariado da ONU para Refugiados (ACNUR) também condenou.
De acordo com o Alto-Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, a Codeco matou mais de 400 pessoas em 2021, tornando-se a segunda milícia mais mortal da região hoje.
Ituri e a província vizinha de Kivu do Norte estão em estado de sítio desde maio passado em resposta à escalada da violência, mas desde então mais de 1.000 civis foram mortos, de acordo com o projeto de pesquisa independente Congo Research Group.
Desde 1998, o leste da RDCongo está envolvido num conflito alimentado por milícias rebeldes e ataques de soldados do Exército, apesar da presença da missão de paz da ONU (MONUSCO), que tem mais de 14.000 soldados destacados.
A ausência de alternativas e meios de subsistência estáveis ??levou milhares de pessoas a pegar em armas e, de acordo com o Barómetro de Segurança do Kivu (KST, na sigla em inglês), a região é campo de batalha de pelo menos 122 grupos rebeldes.
O Conselho Norueguês para Refugiados, que, como outras organizações não-governamentais, condenou veementemente este massacre, disse em comunicado que o campo de Plaine Savo abriga "mais de 24.000 pessoas que fugiram da violência no território de Djugu em 2019".
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