NATO lamenta que China se una à Rússia na negação de direitos soberanos
O secretário-geral da NATO lamentou hoje que, "pela primeira vez", a China se tenha juntado à Rússia no apelo para que a organização não aceite mais membros, afirmando que tal é uma tentativa de negar direitos a nações soberanas.
© Reuters
Mundo Ucrânia
Numa conferência de imprensa no quartel-general da NATO, em Bruxelas, após um encontro com o Presidente da Polónia, o secretário-geral Jens Stoltenberg apontou que um dos assuntos debatidos foi a recente declaração conjunta de Rússia e China, adotada na sexta-feira por ocasião de um encontro entre os presidentes russo, Vladimir Putin, e chinês, Xi Jinping, na qual Moscovo e Pequim se opõem a qualquer alargamento da Aliança Atlântica.
"Discutimos [com o Presidente da Polónia, Andrzej Duda], a recente declaração conjunta da Rússia e China, onde, pela primeira vez, a China se junta à Rússia no pedido à NATO para que deixe de aceitar novos membros. Esta é uma tentativa de negar a nações soberanas o direito de fazerem as suas próprias escolhas", consagrado nos tratados internacionais, comentou o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte.
Defendendo que "o diálogo com a Rússia é hoje ainda mais importante para encontrar uma solução política" para a crise com a Ucrânia, Stoltenberg disse que reiterou hoje o convite a Moscovo "para se encontrar com os aliados da NATO no Conselho NATO-Rússia" e manifestou abertura para escutar as "preocupações" russas, mas reiterou que há "princípios básicos" dos quais a Aliança não prescinde, tal como o direito de qualquer Estado soberano de escolher o seu caminho.
"Estamos prontos a ouvir as preocupações da Rússia, discutir as relações NATO-Rússia, a redução de riscos e transparência, o controlo de armas, o desarmamento e a não proliferação, e outras questões que afetam a nossa segurança. Mas a NATO não prescinde de princípios básicos, tais como a capacidade de proteger e defender todos os aliados, e o direito de cada nação escolher o seu caminho", declarou.
O secretário-geral insistiu que "a NATO respeita as decisões de todos os países de fazerem parte ou não de uma aliança" e defendeu que a "política de portas abertas" que tem praticado "tem sido uma história de sucesso".
"Devemos respeitar decisões soberanas e não regressar à era das esferas de influências, onde as grandes potências podem ditar aos outros o que podem ou não fazer", afirmou.
Relativamente à escalada de tensão na fronteira da Rússia com a Ucrânia, Stoltenberg denunciou uma vez mais a concentração maciça de meios militares russos em torno da Ucrânia, incluindo na Bielorrússia, que considerou "injustificada e não transparente".
"Além disso, a Rússia reagendou o seu exercício anual de forças nucleares para este mês, e já vimos no passado a Rússia utilizar exercícios militares como camuflagem para ações agressivas. Por isso, a NATO tem de se manter vigilante e pronta", disse, acrescentando que é isso mesmo que a Aliança está a fazer, ao ter aumentado a sua presença a leste, algo que poderá prosseguir com o envio de mais meios para "o sudeste da Aliança".
Na passada sexta-feira, China e Rússia denunciaram, numa declaração conjunta, a influência dos Estados Unidos e o papel das alianças militares ocidentais na Europa e na Ásia como desestabilizadores.
No documento, os dois países afirmam-se "contrários a qualquer futuro alargamento da NATO" e denunciam a "influência negativa da estratégia (para o) Indo-Pacífico dos EUA sobre a paz e a estabilidade na região".
A declaração conjunta "sobre a entrada das relações internacionais numa nova era" foi divulgada no âmbito de uma reunião entre Putin e Xi Jinping celebrada em Pequim, onde o Presidente russo se deslocou para assistir à abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno.
Xi disse que os dois países vizinhos se comprometeram a aprofundar a "coordenação estratégica" para enfrentar conjuntamente "interferências externas e ameaças à segurança regional", enquanto Putin considerou que as relações bilaterais atingiram um nível "sem precedentes".
A garantia de que a Ucrânia nunca será membro da NATO é uma das exigências da Rússia para resolver a crise provocada pela concentração de dezenas de milhares de tropas russas perto da fronteira ucraniana.
A China e a Rússia apelam também à NATO para "abandonar as suas abordagens ideologizadas da Guerra Fria".
Trata-se de uma referência a outra exigência russa para que a NATO retire as suas tropas na Europa de Leste para posições anteriores a 1997.
Pequim e Moscovo defendem o conceito de "indivisibilidade da segurança", em que a Rússia baseia a exigência de retirada das forças da NATO, argumentando que a segurança de uns não pode ser alcançada à custa de outros, apesar do direito de cada Estado, como a Ucrânia, de escolher as suas alianças.
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