O 'tweet' de Ali Shamkhani, secretário do poderoso Conselho Supremo de Segurança Nacional do Irão, reconhece pela primeira vez as exigências do ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov.
"Os participantes de Viena agem e reagem com base em interesses e é compreensível", escreveu Shamkhani, acrescentando: "Estamos a avaliar novos elementos que influenciam as negociações e, portanto, procuraremos maneiras criativas de agilizar uma solução".
Nos últimos dias, negociadores de todos os quadrantes em Viena sinalizaram que um possível acordo estava próximo, já que o chefe do órgão de vigilância nuclear das Nações Unidas concordou com um cronograma com o Irão para divulgar respostas a perguntas de longa data sobre o programa de Teerão.
Mas Lavrov disse no sábado que queria "garantias pelo menos no nível do secretário de Estado" de que as sanções dos EUA não afetariam o relacionamento de Moscovo com Teerão.
Esta situação colocou em causa os meses de negociações realizadas até agora para restaurar o acordo de 2015, quando o Irão concordou em limitar drasticamente o seu enriquecimento de urânio em troca do levantamento das sanções económicas.
No domingo, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, considerou "irrelevante" a exigência de Lavrov, alegando que o acordo nuclear e as sanções contra Moscovo por causa da guerra na Ucrânia eram casos "totalmente diferentes".
Os EUA, sob a liderança do então presidente Donald Trump, retiraram-se unilateralmente do acordo em 2018, desencadeando anos de tensões e ataques em todo o Médio Oriente.
"Sair do acordo foi um dos piores erros cometidos nos últimos anos. Isso permitiu que todo o programa nuclear iraniano que colocamos numa caixa saísse da caixa", disse Blinken ao programa"Face the Nation", da CBS.
"Se há alguma possibilidade de voltar a implementar tal acordo, é do nosso interesse fazê-lo e estamos a trabalhar nisso. É também do interesse da Rússia", disse.
Enquanto isso, o jornal estatal de língua inglesa Tehran Times publicou hoje um artigo sugerindo que o esboço do acordo nuclear em Viena permitiria ao Irão "manter material nuclear dentro do país".
É "uma forma de garantia inerente de que o seu programa nuclear seja totalmente reversível se os EUA renegarem os seus compromissos novamente", disse o jornal, sem atribuir uma fonte para a informação.
O tratado de 2015 -- que foi assinado pelo Irão, por um lado, e pelos Estados Unidos, China, França, Reino Unido, Rússia e Alemanha do outro - procurava impedir Teerão de conseguir produzir armas atómicas.
Na semana passada, um relatório da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) revelou que as atuais reservas de urânio enriquecido acumuladas pelo Irão ultrapassam em mais de 15 vezes o limite autorizado pelo acordo internacional de 2015.
Além de não respeitar a quantidade estabelecida, o Irão já tinha ultrapassado, no início de 2021, a taxa de enriquecimento de urânio de 3,67% estabelecida pelo acordo, chegando inicialmente aos 20% e depois passando para o inédito patamar de 60%, aproximando-se dos 90% necessários para fazer uma bomba atómica.
Os inspetores especificam, num relatório técnico citado pela agência espanhola de notícias Efe, que a quantidade de urânio enriquecido a 60% já tinha atingido os 33,2 quilos, o que representa quase o dobro do que era há três meses.
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