"Putin já perdeu a guerra". É assim que o historiador israelita Yuval Noah Harari classifica a invasão russa à Ucrânia. Numa entrevista ao Channel 12, o autor do best-seller internacional 'Sapiens: Uma breve história da humanidade' afirma que, faça o que fizer, o líder russo não conseguirá dominar os ucranianos.
O historiador explica que Putin pode até conseguir conquistar a Ucrânia, mas “esta guerra não é sobre conquistar esta cidade ou aquela cidade".
Harari afirma que a "guerra acabou com a própria existência de um povo ucraniano" que para Putin não existe.
"Ele [Vladimir Putin] tem uma fantasia que construiu na sua cabeça de que não existe um povo ucraniano, que os ucranianos são realmente russos, que eles querem fazer parte da Rússia e que apenas um pequeno grupo judaico-nazi no poder está a impedir isso”, disse em entrevista.
Foi surpreendido, no entanto, pela resistência do povo ucraniano que não só existe, como luta incessantemente contra os russos. Os ucranianos não querem ser dominados pela Rússia e demonstram-no desde o primeiro dia da invasão russa.
O israelita explica que o líder russo acreditava que entraria na Ucrânia, que o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky fugiria, os militares se renderiam e a população “receberia os tanques russos com flores”. Tal não aconteceu, frustrando os planos de Putin.
“Existe um povo ucraniano; Zelensky não fugiu; os militares ucranianos estão a lutar como loucos; e a população está a atirar coquetéis molotov contra os tanques, e não flores", sublinha.
Mesmo que Putin conquiste Kyiv, não conseguirá unir os dois povos que agora se odeiam cada vez mais, considera Harari adiantando ainda que, apesar disto, dias sombrios se avizinham.
Putin não suportará uma derrota e não se importará que "milhões possam morrer".
Quanto às comparações do líder russo com Adolf Hitler, que levou o mundo à II Guerra, Harari afirma que não se deve precipitar neste tipo de paralelismos, mas reconhece semelhanças. Apesar disso, há uma diferença crucial entre ambos: Hitler tinha uma ideologia que levava o povo a segui-lo, o contrário não acontece com Putin.
"Aqui é uma guerra de um só homem. Não é uma guerra do povo russo. O povo russo não quer isto", sublinha.
Quanto à resposta da Europa, o historiador elogia a união numa entrevista ao jornal El Mundo e afirma que "se permanecer unida, não tem nada a temer".
Recorde-se que a Rússia lançou na madrugada de 24 de fevereiro uma ofensiva militar contra a Ucrânia sob pretexto de querer "desnazificar" o país.
De acordo com as autoridades de Kyiv, a guerra, que já conta com 12 dias de destruição, já fez mais de 2.000 mortos entre a população civil e terá já provocado 11 mil baixas entre os soldados russos, informação que o Kremlin não confirma.
Os ataques provocaram também a fuga de mais de 1,5 milhões de pessoas para os países vizinhos, de acordo com a ONU, e estima-se que esse número possa vir a aumentar tornando-se esta a maior crise de refugiados na Europa nos últimos anos.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas a Moscovo.
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