A representante permanente dos Estados Unidos nas instituições da ONU em Genebra (Suíça), a embaixadora Sheba Crocker, disse que qualquer interferência no trabalho da equipa de Michelle Bachelet iria apoiar a "propaganda" que nega alegados abusos de direitos humanos contra membros da minoria muçulmana uigur em Xinjiang.
"Pedimos à República Popular da China que garanta que a sua visita tenha acesso total e não controlado a todas as áreas de Xinjiang e a reuniões privadas com um grupo diversificado de pessoas uigures e grupos da sociedade civil", atentou Sheba Crocker, citada em comunicado.
A embaixadora norte-americana explicou que uma visita credível da Alta-Comissária da ONU para os Direitos Humanos e da sua equipa deve envolver o acesso aos "locais onde as atrocidades, as violações e os abusos dos direitos humanos" foram relatados.
"Quaisquer limitações de acesso impostas à Alta-Comissária ou ao seu gabinete, ou interferência nas suas atividades ou reportagens, prejudicariam gravemente a credibilidade da sua visita e apoiariam a propaganda que nega os abusos ocorridos em Xinjiang", acrescentou.
Sheba Crocker, que assumiu o cargo em meados de janeiro, também pediu a Michelle Bachelet que divulgasse um relatório há muito esperado e muito a atrasado do seu gabinete sobre a situação de Xinjiang.
Numerosos grupos de direitos humanos e organizações de defesa têm relatado ou denunciado alegados abusos de direitos contra uigures e outros grupos na região, mas o relatório do gabinete de Michelle Bachelet viria com o carimbo das Nações Unidas.
A Alta-Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, vai visitar a China, em maio, uma viagem há muito esperada, anunciou terça-feira o Conselho de Direitos Humanos em Genebra.
"Tenho o prazer de informar que recentemente chegámos a um acordo com o Governo chinês para realizar uma visita", disse Bachelet.
Uma equipa de colaboradores da ex-presidente do Chile vai também viajar para a China, no próximo mês - inclusive para a região de Xinjiang, onde Pequim é acusada de violação dos direitos humanos da minoria de origem muçulmana uigur -, para preparar a visita de Bachelet, lê-se na mesma nota.
"Os meus serviços e o Governo iniciaram os preparativos concretos para uma visita que está marcada para maio deste ano", disse Bachelet, acrescentando que esses preparativos "devem levar em conta as restrições ligadas à [pandemia de] covid-19".
Michelle Bachelet, que também deve publicar um relatório sobre Xinjiang aguardado pelos países ocidentais e organizações de defesa dos direitos humanos, pede há anos a Pequim "acesso significativo e desimpedido" a esta região, mas essa visita não foi possível até agora.
Pequim diz que qualquer visita à região deve ser "amigável".
Vários países ocidentais, incluindo Estados Unidos, França e Reino Unido, denunciaram um "genocídio" em andamento contra os uigures.
De acordo com organizações de defesa dos direitos humanos, pelo menos um milhão de uigures, e outras minorias de origem muçulmana, estão ou foram encarcerados em campos de doutrinação nesta região situada no extremo noroeste da China e colocados sob estreita vigilância pelas autoridades.
Pequim contesta, dizendo que são centros de treino vocacional destinados a afastar os uigures do terrorismo e do separatismo, após inúmeros ataques mortais atribuídos a islâmicos ou separatistas uigures.
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