"Não fui abordada para organizar uma conversa telefónica com o meu Presidente, não ao nível presidencial. Talvez isto seja uma nova forma de mediação -- apenas com um lado agressivo que está a cometer crimes de guerra em massa e violações de todas as regras possíveis da lei internacional", disse Liubov Abravitova, citada pelo jornal sul-africano Daily Maverick.
A diplomata falava depois de o Presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, ter conversado na quinta-feira por telefone com o homólogo russo, Vladimir Putin, anunciando depois a conversa na sua conta na rede social Twitter.
"Agradeço a sua excelência o Presidente Vladimir Putin por atender a minha chamada hoje, para que eu pudesse entender a situação que se desenrola entre a Rússia e a Ucrânia", escreveu Ramaphosa, que anunciou também ter sido abordado, sem identificar por quem, para assumir um papel de mediador.
A embaixadora ucraniana lamentou ainda que "durante o mês dos direitos humanos na África do Sul", Ramaphosa "agradeça a Putin ter-lhe atendido o telefone".
Abravitova admitiu que recentemente disse à comunicação social que qualquer mediação que permitisse parar a guerra e as mortes na Ucrânia seria bem-vinda, mas afirmou hoje não acreditar que fosse a si que Ramaphosa se referia.
"Perguntaram-me se acreditava que Ramaphosa pudesse negociar. Eu disse 'claro que sim, ele é um negociador conhecido e profissional", afirmou.
No entanto, acrescentou: "Eu acredito que as negociações são entre dois lados. E ambos os lados devem confirmar o negociador".
"Preocupa-me que o negociador não chame 'guerra' à guerra", afirmou ainda a diplomata, numa referência à frase de Ramaphosa no Twitter, em que disse querer "entender a situação que se desenrola entre a Rússia e a Ucrânia".
A Rússia lançou a 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que já causou pelo menos 549 mortos e mais de 950 feridos entre a população civil e provocou a fuga de 4,5 milhões de pessoas, entre as quais 2,5 milhões para os países vizinhos, segundo os mais recentes dados da ONU.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas a Moscovo.
Numa resolução aprovada na semana passada pela maioria dos Estados-membros na assembleia geral das Nações Unidas, a África do Sul absteve-se, juntamente com outros 15 países africanos.
Na segunda-feira, o Presidente Cyril Ramaphosa explicou que Pretória se absteve "porque a resolução não colocou em primeiro plano o apelo a um envolvimento significativo".
"Houve quem dissesse que, ao se abster na votação condenando a operação militar da Rússia na Ucrânia, a África do Sul se colocou do lado errado da história. No entanto, a África do Sul está firmemente do lado da paz num momento em que outra guerra é algo que o mundo não precisa, nem pode pagar", frisou Ramaphosa, na sua newsletter semanal.
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