O Presidente francês, Emmanuel Macron, reforçou hoje que não haverá qualquer procedimento de adesão acelerado à União Europeia (UE) para um país em guerra, realçando, no entanto, que o Conselho Europeu deixou claro "o destino europeu" da Ucrânia.
"Precisamos ter muito respeito pelos ucranianos e os seus dirigentes, percebo perfeitamente a emoção, o Conselho Europeu enviou uma mensagem forte do destino europeu da Ucrânia, mas podemos ter um procedimento acelerado de adesão para um país em guerra? A resposta é não", disse o chefe de Estado francês, em declarações à comunicação social no fim da cimeira informal que juntou em Versalhes, França, desde quinta-feira, os líderes dos 27 Estados-membros da UE.
Em contrapartida, o Alto Representante da União Europeia para a Política Externa, Josep Borrell, revelou que propôs aos chefes de Estado e de Governo, reunidos em Versalhes, duplicar o financiamento de armamento para a Ucrânia, com 500 milhões de euros suplementares.
Borrell anunciou que propôs "mais 500 milhões de euros de contribuição para o apoio militar à Ucrânia", através do Mecanismo Europeu de Apoio à Paz, elevando assim para 1.000 milhões de euros o financiamento pela União Europeia (UE) de aquisição e fornecimento de armas para apoiar as Forças Armadas ucranianas a combater a invasão russa.
Por outro lado, a UE anunciou que vai entregar um envelope de 300 milhões de euros de ajuda macrofinanceira de emergência à Ucrânia, de um total de 1,2 mil milhões de euros, foi hoje divulgado.
O desembolso de 300 milhões de euros foi acelerado com vista a ajudar a reforçar a estabilidade macroeconómica da Ucrânia, no contexto da invasão russa em curso, segundo um comunicado da Comissão Europeia.
Na próxima semana será disponibilizado um montante semelhante, completando-se o desembolso de uma primeira prestação de 600 milhões de euros.
Apesar deste anúncios, o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, voltou a dizer que a UE deve "fazer mais" pela Ucrânia.
"Têm de se esforçar mais. Não é o que esperamos. As decisões dos políticos devem coincidir com os sentimentos dos seus povos, os povos europeus (...). A União Europeia deve fazer mais por nós, pela Ucrânia", disse Zelensky num vídeo divulgado na rede social Telegram.
As sanções económicas a Moscovo continuam a avolumar-se e hoje o Presidente dos EUA, Joe Biden, anunciou a exclusão da Rússia do regime normal de relações comerciais globais, privando-a do seu estatuto de "nação mais favorecida", abrindo caminho a aumento de tarifas.
A decisão final sobre esta nova sanção, como retaliação pela invasão da Ucrânia, que será tomada em coordenação com o G7 e com a União Europeia (UE), cabe ao Congresso dos Estados Unidos, indicou uma fonte governamental, confirmando informações hoje publicadas por vários meios de comunicação social norte-americanos.
O Presidente russo, Vladimir Putin, que tem criticado as sanções internacionais, classificando-as como "um ato de guerra", admitiu que se registarem "certos desenvolvimentos positivos" nas conversações com a Ucrânia, que não especificou, durante uma conversa em Moscovo com o seu homólogo e aliado bielorrusso, Alexander Lukashenko.
"Há certos desenvolvimentos positivos, como fui informado pelos negociadores. Neste momento, há conversações quase todos os dias", disse Putin, sem dar mais pormenores, citado pelas agências espanhola EFE e francesa AFP.
Contudo, a Rússia continua a apertar o cerco à Ucrânia e hoje determinou o prolongamento do encerramento do espaço aéreo no sul do país, junto à Ucrânia, por mais uma semana, até 20 de março, noticiou hoje a agência oficial russa TASS.
Trata-se da segunda extensão do encerramento do espaço aéreo nas cidades russas próximas da Ucrânia, decretado inicialmente em 24 de fevereiro, o dia em que a Rússia invadiu o país vizinho.
Para aumentar a capacidade militar no teatro de guerra, a Presidência russa anunciou que os cidadãos sírios podem voluntariar-se para combater as forças ucranianas, na sequência da aprovação de um mecanismo que facilita o envio de combatentes voluntários para zonas de conflito na Ucrânia.
"Aqueles que querem, que pediram [para ir lutar] são cidadãos do Médio Oriente, sírios", disse o ministro da Defesa, Sergei Shoigu, citado hoje pelo porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.
Do lado ocidental, o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, voltou a dizer que a Aliança Atlântica não pretende "uma guerra aberta com a Rússia".
"Temos a responsabilidade de impedir que este conflito [entre a Rússia e a Ucrânia] se intensifique para além das fronteiras da Ucrânia e se torne numa guerra aberta entre a Rússia e a NATO", disse Stoltenberg, no decurso do Fórum diplomático organizado pela presidência turca.
Do Alto-Comissariado da ONU para os Direitos Humanos veio a confirmação de que as Nações Unidas receberam "informação credível" de que a Rússia utilizou várias vezes nas mais de duas semanas desde que invadiu a Ucrânia um tipo de armamento proibido pelo seu impacto indiscriminado sobre civis.
O uso dessas bombas ocorreu "mesmo em zonas povoadas", disse hoje a porta-voz daquele organismo, Liz Throssell, precisando que, em 24 de fevereiro, uma bomba de fragmentação explodiu no hospital principal de Vuhledar, situado na parte da região separatista de Donetsk sob controlo governamental, matando quatro civis e ferindo outros dez.
As autoridades da cidade de Kharkiv, no nordeste da Ucrânia, denunciaram um novo ataque contra um estabelecimento de saúde, desta vez um hospital psiquiátrico, onde estavam doentes e funcionários, disse hoje o porta-voz da Organização Mundial da Saúde.
No balanço de mais de duas semanas de guerra, o Alto Comissariado das Nações Unidas registou pelo menos 564 mortos e 982 feridos civis, incluindo dezenas de crianças.
Entre as vítimas civis, a agência da ONU contabiliza 41 crianças mortas e 52 feridas.
Cerca de 4,5 milhões de pessoas fugiram das suas casas na Ucrânia, das quais 2,5 milhões procuraram refúgio fora do país, desde que a invasão russa começou, a 24 de fevereiro, informou hoje a Organização das Nações Unidas (ONU).
"O número de refugiados da Ucrânia - tragicamente - chegou hoje aos 2,5 milhões", afirmou o Alto Comissário da ONU para os Refugiados, Filippo Grandi, numa mensagem publicada na rede social Twitter.
Perante esta situação, a organização não-governamental (ONG) Médicos Sem Fronteiras (MSF) alertou para a necessidade urgente de entregar mais ajuda humanitária na Ucrânia, receando "uma corrida contra o tempo" devido ao isolamento das populações e à evolução da ofensiva russa.
"A MSF teme estar a viver-se uma corrida contra o tempo para fazer chegar as provisões médicas certas aos locais certos antes de já não ser possível a ajuda humanitária alcançar as vilas e cidades cercadas militarmente", afirmou a ONG, num comunicado hoje divulgado.
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