Pilotos da força aérea russa, capturados pelas forças ucranianas, revelaram, numa entrevista exclusiva à CNN, que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, “deu ordens para cometer crimes”, ao contrário da narrativa contada por Moscovo, e que há uma inquietação generalizada entre as tropas.
A estação norte-americana sublinha que solicitou a entrevista ao Ministério do Interior da Ucrânia e que a conversa decorreu numa sala, na qual estavam os jornalistas, os pilotos russos e os Serviços de Segurança ucranianos, que não intervieram ou pediram que fossem feitas determinadas perguntas. A CNN explica ainda que os prisioneiros não estavam sob qualquer contenção física (algemas) e não sugeriram que estavam a falar sob coação.
Um dos pilotos, cujo primeiro nome é Maxim e que falou em nome de todos, explicou que o tratamento por parte das forças ucranianas tem sido “aceitável” e que lhes foi oferecido apoio médico.
“O tratamento foi aceitável. Ofereceram-nos comida e bebida. Ofereceram-nos tratamento médico”, começou por dizer, explicando depois que recebeu uma “ordem secreta de combate” apenas um dia antes de Putin anunciar uma “operação militar especial da Ucrânia”.
Questionado sobre as alegações de Moscovo de que a Ucrânia era governada por neonazis – utilizada frequentemente como justificação para a invasão – o piloto reconhece que foi um “pretexto inventado”.
“Putin e o seu círculo precisam disto para alcançar os seus próprios objetivos (…) Seria benéfico para eles espalhar desinformação sobre o fascismo e o nazismo”, disse.
“Não vimos nenhum nazi ou fascista. Russos e ucranianos podem comunicar na mesma língua, vemos o bem (nestas pessoas)”, acrescentou.
Ao falar sobre a forma como civis estão a sofrer com a guerra, Maxim emocionou-se, conta a CNN.
“Não se trata apenas de desmilitarizar a Ucrânia ou a derrota das Forças Armadas da Ucrânia, cidades de civis pacíficos estão a ser destruídas. Não sei o que pode justificar as lágrimas de uma criança, ou pior ainda, a morte de pessoas inocentes, crianças”, afirmou.
“Não podes perdoar estas coisas. Bombardear uma maternidade?”, questionou.
Os pilotos russos sugeriram ainda que há uma inquietação generalizada entre as tropas quanto ao que está a acontecer na Ucrânia.
“Eu sei que na minha unidade eles são totalmente contra”, disse Maxim. “Eles têm muitos parentes e amigos [na Ucrânia], e foram informados de que era uma operação localizada na área separatista de Donetsk e não um ataque a todo o país. A minha divisão era totalmente contra isto”, sublinhou.
O piloto alegou ainda que não sabia exatamente o que estava a bombardear nos ataques efetuados.
“É impossível saber realmente o que está além das fronteiras do nosso estado. Por exemplo, eles marcam uma coluna de tanques. Mas não podemos ter certeza se está realmente lá ou não”, indicou, revelando que só foram lançados “mísseis não localizados”.
Questionado sobre os primeiros contatos com a família, os russos dizem ter falado apenas sobre “coisas pessoais” e não militares.
“Conversámos sobre os nossos filhos, a casa (…) É claro que queremos muito ver as nossas famílias e entes queridos. Para encontrá-los. E abraçá-los porque estão preocupados”, disse Maxim.
Sobre o futuro, o piloto é claro sobre o que pensa. “Os crimes que cometemos, todos seremos julgados da mesma forma. Fora isso, não posso dizer. É impossível adivinhar... Eles [Ucrânia] vão julgar-nos”, completou.
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