"São essencialmente mulheres com filhos menores. Um elevado número de crianças está fisicamente exausto pelas longas viagens que fizeram, mas não identificámos nenhuma situação impeditiva, do ponto de vista do estado clínico, da viagem para Portugal", disse à Lusa Vítor Almeida, que coordena o grupo de médicos que está a dar apoio a este grupo.
Numa iniciativa da Ordem dos Médicos (OM), que criou recentemente um gabinete de apoio humanitário, quatro clínicos, incluindo uma médica de nacionalidade ucraniana, a que se juntou uma enfermeira, estão na cidade de Cracóvia para apoiar a "Missão Ucrânia", uma iniciativa da sociedade civil que está a atuar na Polónia para preparar o acolhimento em Portugal desses refugiados.
Segundo Vítor Almeida, a maioria das pessoas deste grupo estão fisicamente exaustas devido às "longas viagens" que tiveram de realizar nos últimos dias até Cracóvia, mas também devido ao "stress psicológico de deixar os familiares para trás", nomeadamente os "homens que ficaram na Ucrânia para combater".
A organização da iniciativa solicitou apoio médico, no sentido de ser feita a triagem e registo clínico das pessoas que chegarão a Portugal através de fichas bilingues, que permitem identificar quem tem necessidade de acompanhamento no Serviço Nacional de Saúde.
"Todos os doentes foram admitidos para a viagem da nossa parte. Identificamos uma série de doentes do foro oncológico e com patologia crónica que referenciamos", referiu Vítor Almeida, ao adiantar que cada refugiado leva já uma ficha-inquérito com a sua história clínica, diferenciada conforme sejam adultos, grávidas ou crianças.
De acordo com o médico, a organização ainda está à espera de cerca de 60 pessoas deste grupo, que deverá ser composto por entre 350 e 390 refugiados, os primeiros dos quais já começaram a viagem para Portugal por autocarro.
"Estamos apenas à espera dos que ainda faltam e é para arrancar já. Vamos integrar a coluna que está a seguir, que são seis autocarros e mais de uma dezena de viaturas ligeiras", disse Vítor Almeida, ao avançar que os médicos prestarão também o apoio necessário durante a viagem até Portugal.
"A organização desse movimento, que nasceu da sociedade civil, é de uma capacidade notável", salientou o clínico, para quem "importa que este tipo de apoio à Ucrânia tenha continuidade, que não morra após esta fase inicial emotiva e que se consiga criar um movimento de apoio constante e resiliente".
Segundo afirmou, o sistema de acolhimento dos refugiados ucranianos em Cracóvia está "extremamente bem organizado".
"Estes países limítrofes que estão a receber refugiados estão a dar uma lição humanitária à Europa", sublinhou ainda Vítor Almeida.
A OM, igualmente através do gabinete de apoio humanitário, "está também a facilitar a receção dos refugiados" em Portugal, colocando-os em contacto com os médicos ucranianos que trabalham no país.
A Rússia lançou a 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que já causou pelo menos 691 mortos e mais de 1.140 feridos, incluindo algumas dezenas de crianças, e provocou a fuga de cerca de 4,8 milhões de pessoas, entre as quais três milhões para os países vizinhos, segundo os mais recentes dados da ONU.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas a Moscovo.
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