Ucrânia. Zelensly pede à Alemanha para destruir o "novo muro" da Europa
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, exortou hoje a Alemanha a derrubar o "novo muro" contra a liberdade que existe na Europa, depois da invasão da Ucrânia pela Rússia.
© Getty Images
Mundo Ucrânia/Rússia
"Caro chanceler [Olaf] Scholz, destrua esse muro, conceda à Alemanha o papel de desempenhar essa conquista", disse o Presidente ucraniano perante a câmara baixa do parlamento alemão (Bundestag), num discurso dirigido aos deputados alemães, que está a ser transmitido hoje de manhã em vídeo.
Volodymyr Zelensly fez, deste modo, referência direta ao Muro de Berlim, construído pela União Soviética em 1961 e derrubado em 1989, no início do colapso do regime comunista.
No início do discurso, o chefe de Estado ucraniano foi fortemente aplaudido pelos parlamentares alemães, de acordo com a agência francesa de notícias AFP.
Falando a partir da Ucrânia, Zelensky lamentou a construção de um novo "muro" na Europa desde a invasão russa.
"Não é um muro de Berlim, mas um muro na Europa central, entre a liberdade e a servidão, e esse muro cresce a cada bomba" lançada contra uma cidade ucraniana, sublinhou.
"Um povo está prestes a ser destruído na Europa", alertou Zelensky, que disse que 108 crianças foram mortas na Ucrânia desde o início da ofensiva.
"Ajudem-nos a parar esta guerra", pediu.
O Presidente ucraniano lamentou ainda as estreitas relações económicas estabelecidas nos últimos anos entre Berlim e Moscovo, em particular no campo da energia.
"Caro povo alemão, como é possível que quando vos dissemos que o Nord Stream 2 (um gasoduto entre a Rússia e a Alemanhaera uma espécie de preparação para a guerra, ouvimos como resposta 'é puramente económico. É a economia, a economia'", questionou.
Esses projetos liderados pela Alemanha e pela Rússia "foram o cimento para o novo muro", criticou Zelensky.
A Ucrânia opôs-se, desde o início, à construção do gasoduto Nord Stream 2, que liga a Rússia à Alemanha, mas cuja entrada em funcionamento foi suspensa por Berlim quando o Presidente russo, Vladimir Putin, reconheceu a independência das autoproclamadas repúblicas separatistas ucranianas pró-Rússia.
O regime ucraniano também instou, há várias semanas, a Alemanha a enviar armas, o que Berlim finalmente aceitou depois da invasão russa.
Na sua comunicação de hoje, Zelensky pediu ainda ao chanceler alemão que não se fique pelas sanções económicas impostas até agora contra a Rússia, lembrando os bombardeamentos à cidade cercada de Mariupol e os ataques que o seu país sofre "dia e noite" e "todos os dias da semana".
"É difícil sobreviver a tudo isto sem a ajuda do resto do mundo, defender a Ucrânia e defender o mundo livre da Europa", acrescentou, insistindo na metáfora do muro ao referir que dividiu Berlim durante décadas.
Parafraseando o histórico discurso de 1987 do então Presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, no muro de Berlim, quando este pediu ao líder soviético, Mikhail Gorbachev, para derrubar a construção, Zelensky dirigiu-se ao chanceler alemão.
"Sr. Scholz, destrua esse muro", afirmou, lamentando que o seu país esteja a receber "mais apoio" do outro lado do Atlântico do que da própria Europa.
A Rússia lançou a 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que já causou pelo menos 726 mortos e mais de 1.170 feridos, incluindo algumas dezenas de crianças, e provocou a fuga de cerca de 4,8 milhões de pessoas, entre as quais três milhões para os países vizinhos, segundo os mais recentes dados da ONU.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.
[Notícia atualizada às 10h31]
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