A proposta de Volodymyr Zelensky de se encontrar com o homólogo russo, Vladimir Putin, para alcançar "compromissos", inclusive nos territórios ocupados da Crimeia e do Donbass, foi descartada na terça-feira, com os russos a esperarem um processo de negociação "mais enérgico, mais substancial", indicou o porta-voz presidencial russo Dmitry Peskov.
Enquanto se espera por um possível cessar-fogo, "quase 100.000 pessoas em condições desumanas" estão presas nas ruínas de Mariupol, "sob cerco total, sem comida, sem água, sem medicamentos, sob constantes bombardeamentos", advertiu Zelensky, num vídeo divulgado esta madrugada.
O Presidente ucraniano deverá dirigir-se hoje aos parlamentos francês e japonês, antes de um fim de semana marcado pela atividade diplomática: na quinta-feira, um mês após o início da invasão, representantes de países ocidentais reúnem-se em Bruxelas para as cimeiras da NATO, do G7 e da UE.
A questão-chave dos encontros vai focar-se em "novas sanções contra a Rússia", segundo Jake Sullivan, conselheiro de segurança do Presidente dos Estados Unidos. Joe Biden seguirá depois para a Polónia, país que acolhe a maioria dos 3,5 milhões de refugiados ucranianos.
Biden, que parte para hoje para a Europa, também "trabalhará com aliados em ajustamentos a longo prazo" da presença da NATO na Europa do Leste, adiantou Sullivan.
Mariupol, uma cidade portuária de língua predominantemente russa estrategicamente localizada entre a Crimeia do sul, ocupada por Moscovo desde 2014, e o território separatista de Donetsk, foi bombardeada durante semanas pelos russos. E foi atingida na terça-feira por duas "bombas superpoderosas", de acordo com as autoridades locais.
Imagens de satélite tiradas na manhã de terça-feira pela empresa norte-americana Maxar e enviadas à agência de notícias France-Presse (AFP) mostraram a devastação de áreas residenciais, infraestruturas civis e fábricas.
Os tanques russos entraram na cidade, e um alto funcionário do Pentágono disse na terça-feira à noite que a estratégia russa se baseava agora em "disparos de longo alcance com o centro da cidade como alvo".
Os residentes que fugiram de Mariupol descreveram à organização não-governamental (ONG) Human Rights Watch "um inferno glacial, com ruas cheias de cadáveres e escombros de edifícios destruídos".
"Isto não é guerra, isto é genocídio", disse à AFP, na terça-feira, a Procuradora-Geral da Ucrânia, Iryna Venediktova. "Os teatros de guerra têm regras, princípios. O que vemos em Mariupol é a total ausência de regras", acrescentou.
Zelensky denunciou a captura de uma caravana humanitária pelos russos na terça-feira à noite. Para o fornecimento de alimentos e medicamentos, "todas as nossas tentativas, infelizmente, são reduzidas a nada pelos ocupantes russos. Com bombardeamentos ou terror óbvio", lamentou.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, indignou-se na terça-feira contra uma "guerra absurda" e que "não pode ser ganha", argumentando: "mesmo que Mariupol caísse, a Ucrânia não poderia ser conquistada cidade por cidade, rua por rua, casa por casa".
A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que causou pelo menos 953 mortos e 1.557 feridos entre a população civil, incluindo mais de 180 crianças, e provocou a fuga de mais 10 milhões de pessoas, entre as quais 3,53 milhões para os países vizinhos, indicam os mais recentes dados da ONU.
Segundo as Nações Unidas, cerca de 13 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.
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