"As partes em conflito responderam positivamente a uma proposta das Nações Unidas de um cessar-fogo de dois meses, que entra em vigor amanhã [sábado], 02 de abril, às 19:00" locais (17:00 em Lisboa), indicou Hans Grundberg num comunicado.
"As partes aceitaram suspender todas as operações militares ofensivas aéreas, terrestres e marítimas dentro do Iémen e além das suas fronteiras", sublinhou o enviado especial da ONU, numa referência a ataques perpetrados pela minoria rebelde Huthi no território de países que integram a coligação militar internacional liderada pela Arábia Saudita que intervém desde 2015 na guerra civil do Iémen, iniciada em 2014, como os Emirados Árabes Unidos ou a própria Arábia Saudita.
Segundo o responsável da ONU, o Governo iemenita internacionalmente reconhecido também acordou deixar navios petroleiros entrar no porto de Al-Hudeida (controlado pelos rebeldes Huthis) e voos comerciais aterrar e descolar do aeroporto da capital, Sanaa, (igualmente controlado pelos Huthis) para destinos pré-definidos da região".
O Governo iemenita e os rebeldes "acordaram ainda reunir-se sob a minha mediação para abrir à circulação estradas de Taiz e de outras províncias do Iémen", acrescentou o enviado especial, precisando que "a trégua pode ser renovada para além do período de dois meses com o consentimento das partes".
Salientando que este "acordo de cessar-fogo se destina a dar aos iemenitas uma pausa necessária na violência, um alívio do sofrimento humanitário e, mais importante ainda, esperança na possibilidade de a guerra ter fim", Grundberg agradeceu a todas as partes por trabalharem "de boa-fé" com ele e o seu gabinete para fazerem as concessões necessárias para alcançar este acordo.
"Apelo às partes para aderirem plenamente e respeitarem a trégua e os seus elementos e para adotarem todas as medidas necessárias para o aplicarem imediatamente", declarou.
"Este cessar-fogo é um primeiro passo há muito aguardado. Todas as mulheres, homens e crianças iemenitas que sofreram imensamente durante mais de sete anos de guerra esperam nada menos que o fim desta guerra. As partes não devem dar-lhes menos que isso", sustentou Hans Grundberg.
Frisou igualmente que o acordo não teria sido possível sem o apoio internacional e regional, que agradeceu, pedindo que este prossiga "de forma sustentada", porque "será fundamental para a sua aplicação bem-sucedida e para os próximos passos".
A concluir, o enviado especial da ONU para o Iémen indicou ainda que tenciona, "durante estes dois meses", intensificar o seu trabalho com as partes no conflito "com o objetivo de alcançar um cessar-fogo permanente, aprovar medidas económicas e humanitárias urgentes e retomar o processo político".
A guerra civil iemenita, que começou em 2014 quando os Huthis tomaram vastas parcelas de território do norte e oeste do país, incluindo a capital, fez centenas de milhares de mortos em mais de sete anos de guerra -- não só vítimas dos combates, como também de causas indiretas, como falta de água potável, fome e doenças -, pelo que é considerada pela ONU a maior catástrofe humanitária do planeta, com milhões de pessoas à beira da fome e "mais de 80% da população a precisar de ajuda humanitária".
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