A cidade de Mariupol foi uma das mais devastadas pela invasão russa. Muitos conseguiram fugir, mas milhares permanecem na cidade destruída pelas tropas russas. As tentativas de evacuar a cidade já passaram por várias tentativas, através da criação de corredores humanitários, muitos deles desrespeitados pelos russos, segundo acusa a Ucrânia.
Apesar da situação de quem permanece na cidade não ser a mais segura, quem conseguiu fugir relata os demónios que ainda os perseguem, ainda que estando longe.
Nadia Denysenko e os filhos conseguiram fugir da cidade, três semanas após o início da guerra. Durante o tempo que ficaram em Mariupol, ouviram sucessivas explosões, casas a serem destruídas e passaram pela agonia de ver a comida e a água a escassear.
"Ficámos tão felizes por ter uma garrafa de água", afirma a mulher à BBC, recordando o momento em que fugiram da cidade e encontraram um local relativamente mais seguro. Antes disso, lembra, chegou uma altura em que não havia nada para comer, nem sequer pão. "Não importava se tínhamos dinheiro, porque não havia alimentos para comprar", diz.
Após vários dias, a família conseguiu chegar a Lviv, onde agora se sente mais segura. Contudo, o impacto que o conflito teve nas suas vidas fica patente nas atitudes dos filhos.
"Estamos a salvo e já podemos comprar comida, mas o meu filho ainda esconde comida: pão, doces. Ele esconde-os em diferentes partes da casa onde estamos", recorda a mulher, que já questionou o porquê do hábito do filho.
"Quero ter o que comer amanhã", responde ele.
Nadia lamenta o impacto que a guerra teve na vida dos filhos e questiona quanto tempo estes demorarão a curar as sequelas psicológicas do conflito.
Apesar de tudo, diz esperar um dia voltar a Mariupol, cidade que acusa as tropas russas de terem destruído na totalidade.
Localizada a cerca de 55 quilómetros da fronteira russa e a 85 quilómetros da zona separatista de Donetsk, Mariupol é a maior cidade ainda nas mãos Kiev na bacia do Donbass, que também inclui a região de Lugansk.
A tomada por Moscovo desta cidade portuária, povoada antes da guerra por 450.000 habitantes e localizada às margens do mar de Azov, seria um importante ponto de virada na invasão da Ucrânia.
A captura de Mariupol permitiria fazer uma ligação entre as forças russas provenientes da Crimeia anexada, que já tomaram os portos de Berdiansk e Kherson, e as tropas separatistas e russas no Donbass.
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