Bucha? Foi "situação bem encenada". Peskov nega "atrocidades" na Ucrânia

Segundo o porta-voz russo, que nega qualquer envolvimento do país nas "atrocidades" cometidas na Ucrânia, o fim do conflito será possível se a Rússia atingir os seus objetivos, ou, por outro lado, através de "uma solução nas negociações de paz".

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Daniela Filipe
07/04/2022 18:54 ‧ 07/04/2022 por Daniela Filipe

Mundo

Ucrânia/Rússia

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, esteve, na tarde desta quinta-feira, em entrevista com a Sky News, negando, uma vez mais, o envolvimento das forças russas no massacre de civis em Bucha, que considerou ter sido “uma situação bem encenada”.

Segundo o responsável, a história da Ucrânia mudou em 2014, começando a tornar-se “um centro anti-Rússia, onde tudo o que acontecia era contra a Rússia”. Peskov adiantou ainda que, como consequência, o país passou “décadas” preocupado com “a sua segurança”.

Mesmo sem revelar o número total de vítimas do lado russo, o porta-voz do Kremlin admitiu que o exército de Moscovo está a sofrer “um número significativo de perdas” no conflito com a Ucrânia. “É uma enorme tragédia para nós”, sublinhou.

Quando questionado quanto ao porquê da invasão de Mariupol, uma vez que a segurança da Rússia era, alegadamente, a única preocupação do Kremlin, Peskov atirou que a cidade portuária faz parte da República Popular de Lugansk, região separatista pró-russa no Donbass. Assim, o objetivo da sua ocupação passaria por “ajudar as pessoas, que estiveram a sofrer durante oito anos”.

“Mariupol será libertada dos batalhões nacionalistas, e esperemos que isso aconteça rapidamente”, reforçou.

O porta-voz negou ainda que a cidade esteja a ser atacada pelas forças russas, classificando o bombardeamento da maternidade como “falso”. “Temos motivos para afirmar que foi falso”, garantiu, acrescentando que “estamos a viver na época da falsidade e das mentiras”.

Bucha? Peskov nega responsabilidade por massacre "bem encenado"

Nessa mesma linha, o aliado de Putin insistiu que o massacre de civis em Bucha se trata apenas de “uma situação bem encenada”, e que os corpos encontrados pelas ruas “não são de vítimas de pessoal militar russo”.

Na verdade, confrontado com imagens que mostram cadáveres nas ruas daquela cidade, captadas pela empresa Maxar antes e depois da retirada russa (a 19 de março e 1 de abril), o responsável argumentou terem sido “feitas após a retirada russa”, uma vez que a tecnológica “trabalha também para o Pentágono” e não tem as “datas exatas nas imagens”.

“Negamos que o exército russo tenha responsabilidade nestas atrocidades”, reiterou, atirando que, caso o jornalista Mark Austin - responsável pela entrevista - tivesse “meia hora”, lhe explicaria “como foi feita a encenação”.

“Não podem atribuir responsabilidades sem uma investigação”, disse, naquilo que considerou ser uma “conspiração internacional”.

Presidente russo "não será julgado por crimes de guerra"

No campo dos alegados crimes de guerra cometidos na Ucrânia, Peskov adiantou que “tudo isso deve ser investigado”, acusando ainda as tropas ucranianas de perseguir e de torturar os civis nas cidades mais atacadas pelas forças russas.

“Temos testemunhas destas cidades que nos contam histórias de perseguição e da necessidade de libertação [devido aos] maus tratos por parte das tropas ucranianas”, denunciou.

Contudo, a investigação aos eventuais crimes de guerra terá de ser feita de forma “independente”, uma vez que a Rússia não reconhece o Tribunal Penal Internacional, tendo uma “experiência amarga com investigações internacionais”.

O presidente russo, Vladimir Putin, por seu turno, “não será julgado por crimes de guerra”. “Não vemos qualquer possibilidade”, considerou.

"O exército russo nunca bombardeou alvos civis", garante

Peskov revelou ainda que as tropas russas estão a retirar-se da região de Chernihiv e de Kyiv “como um ato de boa fé em relação às negociações” que, a seu ver, poderão avançar, se a Ucrânia aceitar as condições russas.

Reiterando que “muita gente compreende a posição da Rússia”, o responsável sustentou que o exército ucraniano “esconde-se atrás dos civis e não os deixa sair das cidades”, reafirmando que as tropas russas nunca bombardearam alvos civis.

“O exército russo nunca bombardeou alvos civis, apenas usou mísseis de alta precisão para atacar estruturas militares ucranianas”, garantiu.

“É uma tragédia e as nossas tropas estão a fazer os possíveis para terminar esta operação”, prosseguiu, acrescentando que o fim do conflito será possível se a Rússia atingir os seus objetivos, ou, por outro lado, através de “uma solução nas negociações de paz”

Suspensão na ONU? Rússia continuará a "defender os [seus] direitos"

Sublinhado que o “mundo é maior do que a Europa e os EUA”, Peskov lamentou a suspensão da Rússia do Conselho dos Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas, cuja votação ocorreu esta tarde, garantindo, contudo, que o país continuará a “defender os [seus] direitos”.

Para o porta-voz do Kremlin, a natureza da NATO é de confronto com a Rússia, razão pela qual o país terá de repensar a sua segurança caso a Finlândia e a Suécia adiram à organização.

“Se um lado foi mais poderoso do que o outro, teremos de tomar medidas para reforçar a nossa segurança”, alertou.

As sanções aplicadas à Rússia, por sua vez, não são alvo da preocupação do Kremlin.

“Temos vivido com sanções há décadas, e há um ano que nos preparamos. Apesar de estarmos numa situação difícil, a nossa economia é forte e vai resistir”, apontou, salientando tratar-se de uma oportunidade para desenvolver a tecnologia e a produção nacional.

Questionado se a invasão da Ucrânia valerá, afinal, o esforço e as vítimas causadas, Peskov reiterou que tudo está a ser feito pela segurança da Rússia.

“É para garantir o nosso futuro. Pense numa situação em que a Ucrânia, na NATO, pensa tomar a Crimeia da Rússia. Seria a terceira guerra mundial”, rematou.

Leia Também: Rússia suspensa do Conselho de Direitos Humanos da ONU

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