"Não é viável obter gás de outros sítios em vez da Rússia no volume que precisamos e isto acontece com a maioria dos outros países europeus do leste e sul da Europa", afirmou Scholz, numa conferência de imprensa conjunta com o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, após um encontro entre ambos, em Londres.
Scholz explicou que este "é um grande investimento" e que não se trata apenas de "encontrar outros fornecedores de outras partes do mundo", mas sim de "fazer chegar o gás" ao país.
"Estamos ativamente a trabalhar para deixarmos de ser dependentes da importação de petróleo e pensamos que seremos capazes ainda este ano", disse.
Quanto ao gás, o chanceler reconheceu que a questão "não é tão fácil", porque a Alemanha "precisa de infraestrutura que tem de ser construída primeiro, como gasodutos até às costas do norte da Alemanha", bem como adaptar portos para receber navios que transportam gás liquefeito.
Boris Johnson insistiu na importância de os países europeus deixarem de usar gás e petróleo russos para que a segurança energética "não possa ser ameaçada por um Estado pária", mas reconheceu que "não é fácil" para nenhum dos países.
"Eu aplaudo as decisões sísmicas tomadas pelo Governo de Olaf [Scholz] para afastar a Alemanha dos hidrocarbonetos russos", disse.
Os dois países concordaram em "maximizar o potencial do Mar do Norte" na extração de gás e de petróleo, por forma a reduzir a dependência da Rússia, e em "colaborar na segurança energética e nas energias renováveis", acrescentou.
"Não podemos transformar os nossos respetivos sistemas de energia da noite para o dia, mas também sabemos que a guerra de [Vladimir] Putin não terminará da noite para o dia", disse Johnson.
O Governo britânico prometeu acabar com a dependência de carvão e petróleo russos até ao final de 2022 e de gás "o mais rápido possível", embora o volume de gás que importa da Rússia seja mais reduzido.
A União Europeia (UE) tem hesitado na proibição da importação de petróleo e gás russos, sendo a Alemanha frequentemente identificada como o principal obstáculo devido à elevada dependência da potência europeia dos combustíveis fósseis russos.
O país teme o impacto económico de um embargo total e imediato, tendo a Ucrânia acusado Berlim de alimentar a "máquina de guerra russa".
Berlim, que compra mais de metade do seu gás e uma parte do carvão e do petróleo à Rússia, prometeu parar de importar petróleo russo este ano e gás até meados de 2024.
A UE confirmou hoje um embargo às importações de carvão com efeito a partir de agosto. Todavia, a quantia que os países membros gastam em carvão num ano é igual ao que gastam em petróleo e gás em apenas alguns dias.
A Rússia é o maior fornecedor de combustíveis fósseis da UE. Por si só, representa cerca de 45% das importações de gás e carvão e 25% das importações de petróleo.
O Alto Representante da UE para a Política Externa, Josep Borrell, revelou esta semana que a UE apoiou a Ucrânia com 1.000 milhões de euros desde o início da invasão russa, enquanto, no mesmo período, comprou energia a Moscovo no valor de 35.000 milhões de euros.
A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que matou pelo menos 1.626 civis, incluindo 132 crianças, e feriu 2.267, entre os quais 197 menores, segundo os mais recentes dados da ONU, que alerta para a probabilidade de o número real de vítimas civis ser muito maior.
A guerra já causou um número indeterminado de baixas militares e a fuga de mais de 11 milhões de pessoas, das quais 4,3 milhões para os países vizinhos.
Esta é a pior crise de refugiados na Europa desde a II Guerra Mundial (1939-1945) e as Nações Unidas calculam que cerca de 13 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.
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