A inauguração assinalou o 20.º aniversário dos acontecimentos que, em abril de 2002, afastaram temporariamente o antigo Presidente venezuelano Hugo Chávez (1999-2013) do poder.
"Vinte anos para uma revolução como a nossa é um século de experiência, de vicissitudes, de avanços, retrocessos, vitorias, derrotas, alegrias e dores, mas sobretudo de uma batalha consequente, coerentemente perseverante na ideia de independência, de liberação nacional e na construção do socialismo do século XXI, o socialismo bolivariano, o nosso socialismo", disse Maduro, num discurso transmitido pela televisão estatal venezuelana.
Para o chefe de Estado venezuelano, "desde essa missão militar" norte-americana, terminada depois dos acontecimentos de 11, 12 e 13 de abril de 2002, "exercia-se uma influência, um controlo quase total da estrutura das forcas militares de Venezuela".
"Durante décadas, captaram oficiais, desde muito jovens, levavam para cursos, os compravam (...) e os metiam no sistema de influência do Pentágono, do Comando Sul, da CIA [serviços secretos] e do Departamento de Estado, através das embaixadas", explicou o governante.
Maduro sublinhou que "era uma missão colonial, militar na Venezuela, com comandantes norte-americanos para controlar os componentes militares" venezuelanos e questionou "quantos países têm missões, bases militares norte-americanas para exercer hegemonia, influência e controlo sobre as forças militares para que estejam a serviço da geopolítica de denominação norte-americana no mundo (...) e das políticas golpistas".
Por outro lado, explicou que a Venezuela tem uma doutrina militar construída desde as raízes e da história nacional, com "um conceito estratégico operacional que é a guerra do povo" e "uma nova estrutura ideológica, o bolivarianismo" com uma "estrutura orgânica que aponta à fusão profunda da força militar profissional, bem equipada, bem armada, com o povo organizado na milícia nacional bolivariana".
Segundo Nicolás Maduro, a 11 de abril foi montada a operação para dizer ao mundo que o então Presidente Hugo Chávez tinha massacrado o povo da Venezuela, numa manifestação pacífica, e tinha sido obrigado a demitir-se pelas forças militares do país.
"E o mundo inteiro pensou que era verdade o massacre, e que era verdade que Chávez se tinha demitido", frisou Nicolás Maduro, que acusou a Federação de Câmaras de Comércio (Fedecâmaras) e a Igreja Católica de estar no centro das diretrizes do golpe de Estado e as televisões locais de impor a ditadura mediática do silêncio.
"Fedecâmaras foi a organização eleita pela administração do Governo de George W. Bush [antigo Presidente dos EUA] para encabeçar um governo de facto, depois do golpe de Estado", disse.
Entre 11 e 13 de abril de 2002 e no espaço de 48 horas, a Venezuela teve três Presidentes: Hugo Chávez, o empresário e economista Pedro Carmona Estanga e o antigo vice-presidente constitucional Diosdado Cabello.
A 11 de abril de 2002, depois de fortes protestos contra um pacote de 49 polémicas leis aprovadas por Hugo Chávez e rejeitadas pelo setor privado, a oposição realizou uma marcha até à sede da estatal Petróleos de Venezuela SA, desviada para o palácio presidencial de Miraflores, onde simpatizantes do chefe de Estado estavam concentrados há três dias.
Franco-atiradores dispararam a partir de edifícios próximos contra apoiantes e opositores de Chávez, provocando duas dezenas de mortos e mais de uma centena de feridos.
Na altura, o alto comando militar anunciou, numa alocução ao país, que tinha solicitado a renúncia ao Presidente Hugo Chávez e que esta tinha sido aceite.
No entanto e de acordo com a tese oficial, Hugo Chávez não renunciou e foi detido.
Os militares rebeldes decidiram que o "patrão dos patrões" fosse o novo chefe de Estado e, a 12 de abril, Pedro Carmona Estanga autoproclamou-se Presidente, dissolveu alguns poderes, revogou as polémicas leis aprovadas por Hugo Chávez, designou novos ministros e anunciou que haveria uma eleição presidencial.
No entanto, 28 horas depois de ter assumido os destinos da Venezuela, Pedro Carmona acabou por se demitir, não resistindo à contestação que continuou nas ruas, a cargo dos apoiantes de Chávez, a exigir o seu regresso, que aconteceu um dia depois, a 13 de abril de 2002.
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