O presidente francês, Emmanuel Macron, considerou esta quarta-feira a candidata da extrema-direita, Marine Le Pen, de ter intenções "autoritárias", depois de, na terça-feira, uma equipa de jornalistas de um conhecido programa de televisão ter sido banida dos comícios de Le Pen e empurrada por seguranças.
Durante um comício, os jornalistas do Quotidien - um programa de 'infotainment', que trata das notícias com um tom, muitas vezes, cómico - tentaram aproximar-se de Le Pen, juntamente com vários outros colegas de outros meios de comunicação, quando os seguranças empurraram violentamente a equipa para fora do recinto.
Questionada sobre o assunto e sobre a proibição dos jornalistas do programa de voltar a comícios da candidata do Rassamblement National, Le Pen afirmou numa conferência de imprensa que "não há jornalistas no Quotidien".
Les tensions entre Marine Le Pen et Quotidien avaient connu leur paroxysme en février 2017, quand @PaulLarrouturou s’était fait agresser par le service d’ordre autour de la candidate. pic.twitter.com/a883XfN0ta
— Raphael Grably (@GrablyR) April 12, 2022
"Não é uma emissão de informação, é entretenimento. Às vezes, muito aborrecido", disse Le Pen, citada pela Reuters, respondendo a outro jornalista que é ela que decide quem é jornalista e quem é comediante, e fazendo uma piada sobre a "hostilidade" dos profissionais presentes.
Les leçons de liberté de la presse de @MLP_officiel.
— Christophe Castaner (@CCastaner) April 12, 2022
Derrière le sourire affiché, le mépris total de la liberté d'expression.
Plein soutien à @Qofficiel.#StopLePen pic.twitter.com/FiO46EMpnZ
A resposta não tardou e o opositor da candidata respondeu em dois momentos.
Na terça-feira à noite, num comício em Estrasburgo, Emmanuel Macron comparou a atitude de Marine Le Pen às políticas de Viktor Órban, na Hungria, que têm restringido a liberdade de imprensa e os meios de comunicação independentes.
"Quando a extrema-direita se mete a dizer que escolhe que jornalistas podem vir ou não, fazem simplesmente a mesma coisa que se faz hoje na Hungria, e isso quer dizer uma redução e de degradação, metódica e progressiva, dos direitos", afirmou Macron, no evento citado pelo Le Parisien.
Quand Marine Le Pen se met à dire qu’elle va choisir les journalistes, elle fait la même chose que ce qui est fait en Hongrie.
— Renaissance (@Renaissance_UE) April 12, 2022
Méthodiquement et progressivement dégrader les droits !#MacronStrasbourg #Quotidien pic.twitter.com/ekS7JjvDNv
E, esta quarta-feira de manhã, numa entrevista à France2, Macron desvalorizou as opiniões de especialistas que afirmam que Le Pen está mais moderada nestas eleições do que no confronto entre ambos em 2017, argumentando que o episódio com a equipa do Quotidien demonstra que "a verdadeira face da extrema-direita está a voltar".
"É uma cara que não respeita as liberdades, o enquadramento constitucional, a liberdade de imprensa e os direitos fundamentais, direitos que estão no coração dos nosso valores, como a abolição da pena de morte".
Depois de ter estado muito ausente durante a primeira volta destas presidenciais - dividido entre a guerra na Ucrânia e a certeza de que passaria à segunda volta -, Macron voltou em força à campanha, acrescentando que Marine Le Pen tem "desvios autoritários" por limitar os jornalistas presentes nos seus comícios.
Emmanuel Macron é recandidato pelo partido liberal La République en Marche! pela segunda vez. Em 2017, o presidente francês venceu confortavelmente contra Marine Le Pen, na altura do Front Nationale - partido que mudou de nome para Rassemblement National em 2018, como forma de se distanciar do passado marcado pela xenofobia e racismo do pai de Le Pen, Jean-Marie Le Pen.
Entretanto, a mensagem de Marine Le Pen e as políticas apoiadas pelo seu partido tornaram-se menos eurocêntricas e mais polidas, apesar da líder do partido continuar a apelar à implementação de medidas xenófobas contra o acolhimento de refugiados, e de leis islamofóbicas que atacam a grande comunidade muçulmana a viver em França.
Segundo as sondagens do POLITICO Europe, a diferença de Le Pen para Macron é de apenas 6%, com o incumbente a perder claramente terreno desde meados de março.
Depois da primeira volta no passado domingo, em que Le Pen ficou ligeiramente à frente de Jean-Luc Mélenchon, o terceiro classificado e melhor candidato da esquerda, a segunda volta está marcada para o dia 24 de abril.
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