Le Pen proíbe equipa de jornalistas. Macron fala em "desvio autoritário"

O presidente comparou as atitudes da candidata da extrema-direita aos ataques à liberdade de imprensa na Hungria.

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Hélio Carvalho
13/04/2022 14:07 ‧ 13/04/2022 por Hélio Carvalho

Mundo

França

O presidente francês, Emmanuel Macron, considerou esta quarta-feira a candidata da extrema-direita, Marine Le Pen, de ter intenções "autoritárias", depois de, na terça-feira, uma equipa de jornalistas de um conhecido programa de televisão ter sido banida dos comícios de Le Pen e empurrada por seguranças.

Durante um comício, os jornalistas do Quotidien - um programa de 'infotainment', que trata das notícias com um tom, muitas vezes, cómico - tentaram aproximar-se de Le Pen, juntamente com vários outros colegas de outros meios de comunicação, quando os seguranças empurraram violentamente a equipa para fora do recinto.

Questionada sobre o assunto e sobre a proibição dos jornalistas do programa de voltar a comícios da candidata do Rassamblement National, Le Pen afirmou numa conferência de imprensa que "não há jornalistas no Quotidien".

"Não é uma emissão de informação, é entretenimento. Às vezes, muito aborrecido", disse Le Pen, citada pela Reuters, respondendo a outro jornalista que é ela que decide quem é jornalista e quem é comediante, e fazendo uma piada sobre a "hostilidade" dos profissionais presentes.

A resposta não tardou e o opositor da candidata respondeu em dois momentos.

Na terça-feira à noite, num comício em Estrasburgo, Emmanuel Macron comparou a atitude de Marine Le Pen às políticas de Viktor Órban, na Hungria, que têm restringido a liberdade de imprensa e os meios de comunicação independentes.

"Quando a extrema-direita se mete a dizer que escolhe que jornalistas podem vir ou não, fazem simplesmente a mesma coisa que se faz hoje na Hungria, e isso quer dizer uma redução e de degradação, metódica e progressiva, dos direitos", afirmou Macron, no evento citado pelo Le Parisien.

E, esta quarta-feira de manhã, numa entrevista à France2, Macron desvalorizou as opiniões de especialistas que afirmam que Le Pen está mais moderada nestas eleições do que no confronto entre ambos em 2017, argumentando que o episódio com a equipa do Quotidien demonstra que "a verdadeira face da extrema-direita está a voltar".

"É uma cara que não respeita as liberdades, o enquadramento constitucional, a liberdade de imprensa e os direitos fundamentais, direitos que estão no coração dos nosso valores, como a abolição da pena de morte".

Depois de ter estado muito ausente durante a primeira volta destas presidenciais - dividido entre a guerra na Ucrânia e a certeza de que passaria à segunda volta -, Macron voltou em força à campanha, acrescentando que Marine Le Pen tem "desvios autoritários" por limitar os jornalistas presentes nos seus comícios.

Emmanuel Macron é recandidato pelo partido liberal La République en Marche! pela segunda vez. Em 2017, o presidente francês venceu confortavelmente contra Marine Le Pen, na altura do Front Nationale - partido que mudou de nome para Rassemblement National em 2018, como forma de se distanciar do passado marcado pela xenofobia e racismo do pai de Le Pen, Jean-Marie Le Pen.

Entretanto, a mensagem de Marine Le Pen e as políticas apoiadas pelo seu partido tornaram-se menos eurocêntricas e mais polidas, apesar da líder do partido continuar a apelar à implementação de medidas xenófobas contra o acolhimento de refugiados, e de leis islamofóbicas que atacam a grande comunidade muçulmana a viver em França.

Segundo as sondagens do POLITICO Europe, a diferença de Le Pen para Macron é de apenas 6%, com o incumbente a perder claramente terreno desde meados de março.

Depois da primeira volta no passado domingo, em que Le Pen ficou ligeiramente à frente de Jean-Luc Mélenchon, o terceiro classificado e melhor candidato da esquerda, a segunda volta está marcada para o dia 24 de abril.

Leia Também: França/Eleições: Comunidade francesa em Portugal "elege" Macron e Zemmour

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