A decisão foi comunicada ao Governo pelo líder do partido, Mansour Abbas, após uma reunião do Conselho da Shura, um órgão consultivo da sociedade árabe que é parte do Movimento Islâmico de Israel e tem grande influência dentro dos partidos árabes como o Ra'am, cujo eleitorado é sobretudo formado pelos beduínos do deserto do Neguev, de origem palestiniana.
Trata-se de uma medida acima de tudo simbólica, já que, neste momento, o Knesset (parlamento israelita) se encontra em interregno devido à Páscoa judaica e a suspensão do Ra'am é apenas temporária, mas é uma resposta às fortes pressões de grupos palestinianos, árabes e islâmicos, para que aquele partido se desvincule do atual Governo de coligação, liderado pelo ultranacionalista judeu Naftali Bennett.
Segundo fontes citadas pela imprensa hebraica, a suspensão da participação do Ra'am no executivo estará em vigor apenas duas semanas e foi previamente coordenada com Bennett e com o ministro dos Negócios Estrangeiros, Yair Lapid, artífice da atual coligação, ao liderar o partido mais votado nas legislativas, e que assumirá a liderança do Governo em 2023.
A suspensão, de acordo com as mesmas fontes, ocorre com o objetivo de aliviar a pressão sobre Mansour Abbas, mas sem implicar uma rutura definitiva do executivo.
Alguns deputados do Ra'am ameaçaram abandonar o Governo após a violência com que as forças de segurança israelitas irromperam na sexta-feira na Esplanada das Mesquitas e carregaram sobre palestinianos que se tinham entrincheirado com pedras, mas Mansour Abbas fez vários apelos para a calma desde então.
Contudo, as pressões no seu círculo próximo elevaram-se hoje, quando o xeque Mohammad Salameh Hassan, líder espiritual do Movimento Islâmico em que se insere o Ra'am, instou o partido a sair da coligação.
Os tumultos hoje na Esplanada das Mesquitas entre palestinianos e a polícia israelita saldaram-se em 19 feridos, mas na sexta-feira os confrontos no recinto duraram seis horas, fazendo 152 palestinianos e três agentes feridos, além de mais de 400 detidos.
O Ra'am está confiante de que quando as sessões parlamentares forem retomadas, a 09 de maio, a tensão em Jerusalém terá acalmado e poderá continuar a apoiar o Governo de coligação, depois de ser o primeiro partido árabe-islâmico a integrar um Governo israelita em décadas, apesar de não ter qualquer pasta.
O "congelamento temporário" da participação do Ra'am surge num momento de crise no Governo, já que este perdeu, na semana passada, a sua estreita maioria no Knesset, depois de a deputada Idit Silman, do partido Yamina, de Bennett, ter abandonado a coligação, pelo que o executivo e a oposição têm 60 assentos parlamentares cada um.
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