O departamento de educação do estado norte-americano da Flórida rejeitou 54 livros de matemática, na semana passada, com o governo liderado pelo conservador Ron DeSantis a alegar que os livros contêm referências à Teoria Crítica do Racismo (ou CRT, na sigla em inglês).
Num comunicado, citado pela NBC, foram revistos 132 livros de matemática a ser usados em salas de aula naquele estado, tendo sido proibidos cerca de 41%.
Apesar de o estado não esclarecer em que medida é que os conteúdos matemáticos abordam temáticas antirracistas, o comunicado afirma que "o maior número de livros rejeitados destinava-se aos níveis do infantário ao quinto ano, em que uns alarmantes 71% dos livros não estavam alinhados com os standards da Flórida ou incluíam tópicos proibidos".
Do lado democrata, o congressista Carlos Smith, do estado da Flórida, acusa o governador Ron DeSantis de "tornar as salas de aula num campo de batalha político" e rejeita que os livros estejam a "doutrinar" as crianças.
.@EducationFL just announced they're banning dozens of math textbooks they claim "indoctrinate" students with CRT. They won't tell us what they are or what they say b/c it’s a lie.#DeSantis has turned our classrooms into political battlefields and this is just the beginning. pic.twitter.com/AliAGRDJIW
— Rep. Carlos G Smith (@CarlosGSmith) April 15, 2022
Não é a primeira vez que o governo da Flórida toma medidas para restringir o tipo de conteúdos abordados em salas de aula.
Além de ter proibido o estudo da CRT nas salas de aula do estado, o governador DeSantis promulgou em março uma lei que proíbe o ensino e abordagem de conteúdos e questões sobre orientação sexual e identidade de género, alegando que essas questões devem ser abordadas em família.
A CRT é, essencialmente, uma corrente teórica que examina o racismo e o seu impacto na sociedade norte-americana, nomeadamente através da discriminação racial no acesso à educação, ao mercado da habitação e ao apoio jurídico.
Apesar da CRT ser raramente lecionada fora das universidades e do estudo sociológico nos EUA, os legisladores republicanos tem usado a teoria como bode expiatório para censurar livros e conteúdos escolares que critiquem a escravatura e a defesa da mesma durante o século XIX.
Estes ataques surgiram com maior proeminência à medida que os protestos antirracistas de 2020, após a morte de George Floyd e de Breonna Taylor, se tornaram num apelo a reparações históricas do colonialismo e da escravatura um pouco por todo o mundo.
Os principais alvos têm sido autores negros, cujos livros, dos mais infantis aos mais avançados, procuram alertar para a discriminação racial. Em algumas escolas, alunos e professores que alertaram para casos de racismo acabaram por ser expulsos e despedidos após pressão por parte de direções de encarregados de educação.
A CRT, tal como os direitos das comunidades LGBT+, é um palco de debate entre os republicanos conservadores e os democratas, com os primeiros a veicularem a ideia de uma "guerra cultural" contra a 'cultura woke' num ano crucial, em que se disputam eleições intercalares que determinarão o controlo do Congresso nacional e de órgãos estatais.
O rosto destas medidas na educação é Ron DeSantis, uma das vozes proeminentes num Partido Republicano que procura recuperar a imagem depois de Donald Trump, mas sem se afastar muito da base ultraconservadora e polarizada que o antigo presidente criou. DeSantis é, aliás, considerado como um dos principais candidatos à presidência norte-americano pelos republicanos (se Trump não tentar um segundo mandato).
Leia Também: Governadora do Kansas veta (mais uma) lei anti-LGBT+ nos EUA