Flórida proíbe 54 livros de matemática por alegadas críticas ao racismo

A liderança conservadora do estado alega que os livros promovem conteúdos da Teoria Crítica do Racismo, apesar de esta não ser lecionada fora das universidades.

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Hélio Carvalho
18/04/2022 21:30 ‧ 18/04/2022 por Hélio Carvalho

Mundo

EUA

O departamento de educação do estado norte-americano da Flórida rejeitou 54 livros de matemática, na semana passada, com o governo liderado pelo conservador Ron DeSantis a alegar que os livros contêm referências à Teoria Crítica do Racismo (ou CRT, na sigla em inglês).

Num comunicado, citado pela NBC, foram revistos 132 livros de matemática a ser usados em salas de aula naquele estado, tendo sido proibidos cerca de 41%.

Apesar de o estado não esclarecer em que medida é que os conteúdos matemáticos abordam temáticas antirracistas, o comunicado afirma que "o maior número de livros rejeitados destinava-se aos níveis do infantário ao quinto ano, em que uns alarmantes 71% dos livros não estavam alinhados com os standards da Flórida ou incluíam tópicos proibidos".

Do lado democrata, o congressista Carlos Smith, do estado da Flórida, acusa o governador Ron DeSantis de "tornar as salas de aula num campo de batalha político" e rejeita que os livros estejam a "doutrinar" as crianças.

Não é a primeira vez que o governo da Flórida toma medidas para restringir o tipo de conteúdos abordados em salas de aula.

Além de ter proibido o estudo da CRT nas salas de aula do estado, o governador DeSantis promulgou em março uma lei que proíbe o ensino e abordagem de conteúdos e questões sobre orientação sexual e identidade de género, alegando que essas questões devem ser abordadas em família.

A CRT é, essencialmente, uma corrente teórica que examina o racismo e o seu impacto na sociedade norte-americana, nomeadamente através da discriminação racial no acesso à educação, ao mercado da habitação e ao apoio jurídico.

Apesar da CRT ser raramente lecionada fora das universidades e do estudo sociológico nos EUA, os legisladores republicanos tem usado a teoria como bode expiatório para censurar livros e conteúdos escolares que critiquem a escravatura e a defesa da mesma durante o século XIX.

Estes ataques surgiram com maior proeminência à medida que os protestos antirracistas de 2020, após a morte de George Floyd e de Breonna Taylor, se tornaram num apelo a reparações históricas do colonialismo e da escravatura um pouco por todo o mundo.

Os principais alvos têm sido autores negros, cujos livros, dos mais infantis aos mais avançados, procuram alertar para a discriminação racial. Em algumas escolas, alunos e professores que alertaram para casos de racismo acabaram por ser expulsos e despedidos após pressão por parte de direções de encarregados de educação.

A CRT, tal como os direitos das comunidades LGBT+, é um palco de debate entre os republicanos conservadores e os democratas, com os primeiros a veicularem a ideia de uma "guerra cultural" contra a 'cultura woke' num ano crucial, em que se disputam eleições intercalares que determinarão o controlo do Congresso nacional e de órgãos estatais.

O rosto destas medidas na educação é Ron DeSantis, uma das vozes proeminentes num Partido Republicano que procura recuperar a imagem depois de Donald Trump, mas sem se afastar muito da base ultraconservadora e polarizada que o antigo presidente criou. DeSantis é, aliás, considerado como um dos principais candidatos à presidência norte-americano pelos republicanos (se Trump não tentar um segundo mandato).

Leia Também: Governadora do Kansas veta (mais uma) lei anti-LGBT+ nos EUA

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