"Estou consciente do papel da Rússia na história da Bulgária, assim como na história da Ucrânia", disse Dmytro Kuleba, em conferência de imprensa, depois de se encontrar com a sua homóloga búlgara, Teodora Genchovska, em Sófia.
E argumentou: "Historicamente, a Rússia fez algumas coisas [positivas] que continuam a viver nos sentimentos das pessoas desses dois países", mas é hoje "uma Rússia diferente".
"Destrói, assassina, tortura e viola. Esta Rússia não merece compaixão nem compreensão. Quero que todos entendam isto", sublinhou o chefe da diplomacia ucraniana.
A Bulgária é um dos dois únicos membros da NATO - juntamente com a Hungria - que se recusa a enviar ajuda militar à Ucrânia.
Os dois Governos argumentam que a entrega de armas a Kyiv pode torná-los parte direta do conflito.
Na Bulgária, a questão é particularmente sensível devido à simpatia histórica relativamente a Moscovo de uma população educada durante gerações para ser grata à Rússia pela sua contribuição para a independência do país.
O apoio russo foi fundamental para a libertação da Bulgária do domínio de cinco séculos do Império Otomano na Guerra Russo-Turca (1877/1878).
Na coligação partidária que ocupa atualmente o poder na Bulgária, é sobretudo o Partido Socialista, herdeiro do antigo Partido Comunista e próximo da Rússia, a principal força que se recusa a enviar armas à Ucrânia.
Essas reticências foram hoje indiretamente confirmadas por Teodora Genchovska, ao sublinhar que o seu país já está a fazer o que pode para ajudar a Ucrânia.
"Sendo um país pequeno, tentamos ajudar o povo ucraniano de acordo com as nossas possibilidades", disse a ministra dos Negócios Estrangeiros búlgara, recordando que, desde o início da invasão russa da Ucrânia, a 24 de fevereiro, a ajuda humanitária já alcançou 1,5 milhões de euros, além de 185 mil euros canalizados através de várias organizações humanitárias.
Além disso, a Bulgária, país mais pobre da União Europeia (UE), já recebeu mais de 91.000 refugiados ucranianos, referiu a responsável.
Na mesma conferência de imprensa, Kuleba reconheceu e agradeceu esse apoio, advertindo, porém, que o que agora está em jogo ultrapassa as fronteiras do seu país.
"O que está a acontecer atualmente na Ucrânia é essencial para o futuro de toda a região e a segurança da Ucrânia é a segurança de todos os países do Mar Negro", avisou Kuleba.
O ministro ucraniano chegou à Bulgária na segunda-feira à noite, numa visita não anunciada e, segundo avançou o Governo búlgaro, irá reunir-se hoje com o primeiro-ministro do país balcânico, Kiril Petkov, e na quarta-feira com o Presidente Rumen Radev, considerado simpatizante do Kremlin.
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