Para "garantir resgate de pessoas" é preciso "ser aborrecido para media"
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, mostrou-se na quinta-feira irritado com perguntas em Kyiv sobre a sua postura perante a Rússia e afirmou que "não trabalha para brilhar" na imprensa, recusando comentários "que prejudiquem" o resgate de civis.
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Mundo Ucrânia
Questionado por uma jornalista sobre o que é que a Organização das Nações Unidas (ONU) fará se a Rússia violar os princípios com que Vladimir Putin concordou na deslocação de Guterres a Moscovo, o secretário-geral evidenciou estar incomodado com a questão, acusando a profissional de pretender uma resposta que dificultaria as negociações.
"Senhora, o que você quer? Você quer que as pessoas sejam resgatadas, ou você quer que eu diga algo que será um obstáculo para essa tarefa? No momento presente, só posso lhe dizer, estamos a fazer tudo o que podemos para que isso aconteça. Não vou entrar em nenhum comentário que prejudique essa possibilidade porque a minha primeira e única prioridade são as pessoas que sofrem e as pessoas que devem ser resgatadas", disse Guterres, segundo a transcrição da conferência de imprensa.
"É exatamente isso que você quer, é que eu diga coisas que não facilitariam o trabalho que estamos a fazer no momento, que é garantir que isso aconteça. Não posso admitir que isso não vá acontecer. Se isso não acontecer, tomarei as decisões certas no momento certo", acrescentou o ex-primeiro ministro português.
Guterres brilhante!!!
— D. Evil de Hamster (@RealEvilHamster) April 28, 2022
As negociações sérias acontecem nos bastidores, não para vosso entretenimento.
Declarações sensacionalistas por parte do SG da ONU só levariam as partes a endurecer o discurso para não perder a face.
E quem sofre com isso é sempre a população civil. pic.twitter.com/7NJyuAtm0B
O secretário-geral da ONU chegou à Ucrânia na quarta-feira, depois de uma visita a Moscovo, onde pediu ao presidente russo, Vladimir Putin, que coopere com as Nações Unidas para permitir a retirada de civis das áreas bombardeadas, nomeadamente no leste e sul da Ucrânia, onde as forças russas concentram a sua ofensiva.
Esta é a primeira visita do secretário-geral à Ucrânia desde o início do conflito e acontece numa altura em que António Guterres tem sido alvo de críticas pela sua alegada passividade em tomar medidas concretas para travar a guerra.
Numa conferência de imprensa que concedeu ao final da tarde de quinta-feira após se encontrar com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelenksy, Guterres assegurou que não trabalha "para brilhar" na imprensa, admitindo estar a ser "aborrecido para os media de propósito".
"Mais uma vez, estou a trabalhar com apenas um objetivo, não de brilhar nos media. Estou a ser muito aborrecido para a media de propósito, porque a única maneira de garantir o resgate de pessoas é ser aborrecido para os media, porque nós mesmos já temos dificuldades suficientes", disse.
Antes de ser aberto o momento para perguntas dos jornalistas, António Guterres havia admitido o fracasso do Conselho de Segurança da ONU em "prevenir e acabar com esta guerra" na Ucrânia.
Ao ser indagado sobre uma possível reforma da estrutura da ONU, o secretário-geral advogou não ter o "poder de reformar o Conselho de Segurança", e não ter "ilusões" sobre a possibilidade de fazê-lo imediatamente, mas assegurou que fará "tudo o que puder para tornar a ONU o mais eficaz possível", "para, pelo menos, compensar uma falha" que não conseguiu "resolver".
"Vocês podem ter a certeza do total compromisso em apoiar o povo ucraniano nesta dificuldade e a nossa voz permanente em pedir o fim desta guerra. O fim desta guerra em respeito ao direito internacional e em respeito à Carta das Nações Unidas", concluiu.
Em 24 de março, de um total de 140 países que votaram na Assembleia Geral da ONU uma resolução em que era pedido à Rússia a cessação imediata das hostilidades contra a Ucrânia, 20 dos 38 que se abstiveram eram países africanos e entre os cinco que votaram contra, um (Eritreia) era africano.
A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que já matou mais de dois mil civis, segundo dados da ONU, que alerta para a probabilidade de o número real ser muito maior.
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