Crise deixa "poucos motivos para celebrar", diz presidente de Cabo Verde
O Presidente cabo-verdiano, José Maria Neves, admitiu hoje que este 1.º de Maio tem "poucos motivos para celebrar", devido à crise provocada pela pandemia de covid-19 e pela guerra na Ucrânia, pedindo apoio aos mais necessitados.
© Lusa
Mundo Dia do Trabalhador
Na sua mensagem alusiva ao Dia do Trabalhador, que se assinala hoje, José Maria Neves diz que o Estado, os municípios, as organizações não-governamentais, as Igrejas, as empresas e os sindicatos "estão convocados a darem as mãos e socorrerem os que estão a atravessar momentos de grande fragilidade, inclusive de privação de alimentos".
"Esta sequência de eventos adversos, tanto para os trabalhadores como para Cabo Verde, deve levar-nos a refletir sobre todas as nossas vulnerabilidades e agir de forma a nos tornarmos cada vez mais resilientes, nós e a nossa economia. Urge analisar as nossas fraquezas e agir em conformidade. A todos os níveis, há que ter a exata noção da realidade e interiorizar a cultura de poupança, de racionalização e de busca de eficácia no uso dos recursos e na concretização dos objetivos preconizados", afirmou o Presidente cabo-verdiano.
O arquipélago enfrenta uma profunda crise económica e financeira, decorrente da forte quebra na procura turística - setor que garante 25% do Produto Interno Bruto (PIB) do arquipélago - desde março de 2020, devido à pandemia de covid-19.
Em 2020, o país registou uma recessão económica histórica, equivalente a 14,8% do PIB, seguindo-se um crescimento de 7% em 2021 impulsionado pela retoma da procura turística. Para 2022, devido às consequências económicas da guerra na Ucrânia, nomeadamente a escalada de preços, o Governo cabo-verdiano baixou a previsão de crescimento de 6% para 4%.
"Em Cabo Verde, quando se fala do Dia do Trabalhador, geralmente imaginamos alegria, comemorações e muita confraternização. Este ano, infelizmente, o 1.º de Maio deixa-nos poucos motivos para celebrar. A realidade hoje vivenciada por muitos trabalhadores não constava das nossas previsões mais pessimistas, de há um par de anos. Uma série bastante improvável e consecutiva de ocorrências incrivelmente desfavoráveis para a nossa economia tiveram um efeito devastador na vida dos nossos trabalhadores e das respetivas famílias", reconheceu José Maria Neves, na mesma mensagem.
Acrescenta que "não é difícil de imaginar, principalmente, o sentimento e o estado de carência dos chefes de família que perderam os seus postos de trabalho e de muitas famílias que hoje dispõem de muito pouco ou mesmo nenhum tipo de rendimento".
"Estamos perante um drama social cujo impacto é mais sentido pela população de rendimento baixo, cuja erosão do poder de compra a torna incapaz de adquirir os produtos de primeira necessidade", apontou.
"Temos plena consciência de que muitos desses lares, que têm passado por momentos de penúria, são chefiados por mulheres, e que a pobreza tem o rosto feminino. Dedicando-se à agricultura de subsistência, pecuária, venda ambulante, ou outras atividades similares, duramente atingidas por esta crise persistente, estas mulheres, que carregam Cabo Verde às costas, muito mais do que bons propósitos, clamam por ações concretas, com impacto nas suas vidas e que possam concorrer para a resolução dos seus problemas mais ingentes", acrescentou.
Face a "uma realidade tão adversa", José Maria Neves defende uma "sindicalização mais generalizada como a melhor maneira de os trabalhadores se unirem, de forma coletiva e em coligação de esforços", e que "quanto mais representativos e vigorosos forem os sindicatos, tanto melhor estes conseguirão representar e defender os seus filiados".
"O momento é o mais apropriado para a preservação e o reforço das instituições sindicais, que estão alicerçadas na história, graças aos contributos decisivos para a afirmação do sindicalismo em Cabo Verde. Pelo contrário, fragilizar o sindicalismo é fragilizar o trabalhador. Assim, deixo um veemente apelo para que, de forma serena, com capacidade de diálogo e equilíbrio possam ser encontrados os melhores caminhos de convergência, que dignifiquem e reforcem os sindicatos, que são pilares do Estado de Direito Democrático", acrescentou.
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