Rússia acusada de impedir exportação de cereais da Ucrânia e de os roubar

A União Ucraniana de Industriais e Empresários (USPP, na sigla em ucraniano) solicitou hoje ajuda a organizações internacionais para a abertura de um corredor que permita a exportação do grão bloqueado nos portos devido à invasão russa.

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Lusa
03/05/2022 22:27 ‧ 03/05/2022 por Lusa

Mundo

Guerra na Ucrânia

Cerca de 4,5 milhões de grãos estão bloqueadas nos portos ucranianos por causa do ataque russo, afirmou a organização em comunicado.

Por esta razão, as exportações estão a ser feitas apenas por via terrestre, através das ligações ferroviárias e rodoviárias ao oeste do país, o que permite exportar apenas um milhão de toneladas por mês.

Antes da guerra, as exportações anuais por barco atingiam os 160 milhões de toneladas, contrastou a USPP, que reforçou a diferença ao dizer que dessa forma o complexo agroindustrial ucraniano alimentava 400 milhões de pessoas.

"A guerra da Federação Russa contra a Ucrânia transtornou a estabilidade alimentar no mundo e colocou as regiões mais vulneráveis em risco de sofrerem fome", denunciou a organização.

Por isso, pediu ao governo de Kyiv que solicite ajuda de outros Estados e organizações internacionais para organizar de forma conjunta um corredor marítimo que permita exportar o grão que está bloqueado em portos como os de Odessa e Nikolaev.

"É claro que é uma tarefa difícil, mas pelo menos devemos começar consultas com a ONU e os Estados aliados. É uma área de interesse comum", destacou no texto.

O presidente da USPP, Anatoly Kinakh, assinalou também que existem acordos com a Alemanha e Lituânia para criar uma "ponte de grão", usando para tal a ferrovia europeia e uma rede de terminais.

"Isto multiplicaria por cinco a capacidade de exportação, mas o número anual continuaria a ser entre 65 milhões e 70 milhões, metade das exportações marítimas", comparou Kinakh.

O ataque russo à Ucrânia afetou fortemente as enormes exportações de trigo e outros cereais, o que, segundo a agência da ONU para a alimentação (FAO, na sigla em Inglês), contribuiu para que os preços dos alimentos tenham subido para máximos dos últimos 30 anos.

Também hoje soube-se que a Ucrânia espera para este ano apenas dois terços da sua produção habitual, o que vai encarecer os preços e provocar fome em vários locais do mundo.

O economista ucraniano Oleh Pendzyn, em declarações à radio de Kyiv Hromadske Radio, salientou que a invasão russa prejudicou gravemente as colheitas ucranianas, o que vai ter consequências graves.

"Se a Ucrânia não exportar para os nossos mercados tradicionais, a comida não vai aparecer fisicamente nesses territórios e os preços os vereais vão subir", disse.

Além das colheitas que não se podem fazer, devido aos bombardeamentos, o economista apontou que os russos estão a destruir as reservas de cereais da Ucrânia.

"Paralelamente à interrupção das exportações de cereais, a Federação Russa está a bombardear silos com grãos, armazéns com fertilizantes e enormes reservas de combustível e lubrificantes. Estão a fazer tudo o que podem para que a Ucrânia perca das suas capacidades agrícolas". É que "a Ucrânia e a Federação Russa competem nos mesmos mercados de alimentos em todo o mundo", descreveu.

Oleh Pendzyn recordou que, segundo a ONU, a invasão russa da Ucrânia e o bloqueio dos portos marítimos ucranianos podem provocar a fome de 1,7 mil milhões de pessoas, o que representa mais de um quinto da população mundial.

Sindicatos agrícolas de Espanha estimam que a Ucrânia e a Federação Russa representam 30% da produção mundial de trigo, 20% da de milho e metade da de girassol, além de serem também a principal origem dos fertilizantes usados na Europa.

Os ataques russos que visam a produção agrícola da Ucrânia já levaram as autoridades do país atacado a acusarem os dirigentes de Moscovo de quererem repetir a grande fome do 'Holodomor' estalinista, que causou a morte a milhões de ucranianos na década de 1930 do século passado.

A acusação foi feita depois de um bombardeamento russo a instalações agrícolas ucranianas de alta tecnologia.

"O objetivo é o 'Holodomor'. Os ocupantes bombardearam o elevador de Rubizhne", disse o chefe da administração militar ucraniana de Luhansk, Serhiy Gaidai, em mensagem colocada na rede social Telegram, divulgada pela agência noticiosa Unian.

Imagens de satélite do Planet Lab mostram que o recinto da empresa Golden Agro foi atingido por potentes bombas, que destruíram totalmente o complexo de elevadores inaugurado em 2020, que podia armazenar até 30 mil toneladas de grãos.

Gaidai acrescentou que "na empresa tinha sido instalado um laboratório com equipamentos de última geração" e acusou os russos de quererem "organizar um 'Holodomor'".

Como disse, "nas cidades ocupadas registaram-se casos de exportação de cereais ucranianos para a Federação Russa", acrescentando que "antes, os invasores também destruíram todos os armazéns de alimentos em Severodonetsk".

O vice-ministro ucraniano da Política Agrícola, Taras Vysotski, declarou no sábado que as tropas russas apreenderam "centenas de milhares de toneladas" de cereal nos territórios ocupados e que se espera que apreendam a maior parte do que não está armazenado, estimado em milhão e meio de toneladas.

O portal noticioso ucraniano LB denunciou há uma semana que na região de Kherson, controlada pelas tropas russas, as forças de Moscovo só permitem aos agricultores fazer as sementeiras se se comprometerem a dar depois 70% das colheitas futuras.

Leia Também: Empresa eslovaca vai reparar veículos ucranianos danificados pela guerra

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