No dia 24 de fevereiro, pouco antes do nascer do sol, tropas russas invadiram o território ucraniano a partir do norte, do leste e do sul do país. As bombas atingiram as duas maiores cidades, Kyiv e Kharkiv, e o avanço dos invasores precipitaram a maior onda de refugiados da Europa desde a crise migratória de 2015.
Três meses depois, a 'vitória-relâmpago' da Rússia que muitos previam não se confirmou. A defesa da Ucrânia aguentou, afastou os russos de Kyiv e, agora, a guerra está concentrada no sul e no Donbass.
A guerra na Ucrânia tem tido um contexto histórico diferente de qualquer outro grande conflito armado, situando-se numa altura em que os movimentos das tropas são quase acompanhados ao minuto, em que declarações de guerra são preparadas pelo Twitter e em que as imagens mais marcantes são vistas por todo o mundo em poucos minutos.
Dada a natureza das imagens, avisamos os leitores mais sensíveis para a violência e a força de algumas das fotografias.
Uma das imagens a marcar o primeiro mês de guerra foi tirada em Mariupol, uma das cidades mais assoladas pela invasão. No dia 9 de março, os russos bombardearam uma maternidade na cidade, matando várias pessoas e ferindo grávidas e bebés.
Para a história ficou a fotografia tirada a uma mulher grávida a ser transportada numa maca, segurando na barriga depois de um ataque. Tanto a mulher como o bebé acabariam por morrer poucos dias depois.
© Twitter/Evgeniy Maloletka
A retirada russa dos arredores de Kyiv marcou o segundo mês da guerra, e espoletou uma vaga de condenações por todo o mundo contra o Kremlin e as ações das forças russas. No final de março, depois de um mês de ocupação russa, começaram a circular na internet imagens de corpos nas ruas e nas valas de Bucha e Irpin, com marcas de execuções sumárias e violações, fotografados por sobreviventes e por jornalistas que acudiram ao local à medida que as cidades foram sendo libertadas.
As fotografias chocaram o mundo. A Rússia foi afastada (voluntária ou involuntariamente) de várias organizações e entidades, as sanções adensaram-se, começaram a ser realizadas investigações independentes a crimes de guerra e crimes contra a humanidade. Bucha tornou-se no palco mais famoso e mais sangrento da guerra.
© Mykhaylo Palinchak/SOPA Images/LightRocket via Getty Images
Mas a situação em Mariupol quase não deu tempo para se assimilar o que aconteceu em Kyiv. A cidade portuária foi cercada logo no início da guerra pelos russos, devido à sua posição estratégica no mar de Azov. Ao longo da guerra, foram-se sucedendo os bombardeamentos a estruturas civis, nomeadamente um teatro onde estavam abrigadas centenas de pessoas, até que a resistência ucraniana não aguentou mais.
Depois de três meses abrigados na siderúrgica de Azovstal, os militares do batalhão extremista de Azov, a lutar do lado da resistência local, renderam-se às tropas russas no dia 20 de maio, cedendo finalmente o que resta de Mariupol à invasão.
© Dmytro Kozatskiy
Noventa dias depois, a guerra encontra-se estagnada no Donbass: se, por um lado, começam a escassear recursos aos russos para prosseguir, também faltam recursos aos ucranianos para os afastar da região. Na União Europeia, a Itália já fala em cedências de território, para que seja negociado um cessar-fogo que ponha fim à guerra e à crise mundial que surgiu como fruto dela.
A guerra na Ucrânia já fez quase 4.000 mortos entre a população civil, segundo dados do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos. No entanto, a instituição alerta que o número real de mortos poderá ser muito superior, tendo em conta as dificuldades em contabilizar baixas em cidades sitiadas ou tomadas pela Rússia.
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