"Consideramos que este é um assunto interno da Moldova, mas não queremos que as autoridades no poder comecem a acertar contas com antigos concorrentes políticos, aproveitando a situação atual", disse o diplomata, citado por agências de notícias russas.
"Por isso, temos de garantir com muito cuidado que os direitos de Dodon, no contexto dos procedimentos judiciais, são respeitados e que são cumpridas as regras internacionais", acrescentou.
Na terça-feira, Igor Dodon, suspeito de traição e corrupção, foi detido pela polícia moldava, que realizou também várias buscas nos escritórios e na casa do ex-chefe de Estado, em Chisinau, capital desta ex-república soviética, onde os conflitos entre pró-ocidentais e pró-russos têm vindo a aumentar desde a ofensiva russa na Ucrânia.
As autoridades suspeitam que Dodon tenha recebido dinheiro, em 2019, de um aliado político, o oligarca Vlad Plahotniuc, exilado desde que entraram em vigor as sanções norte-americanas impostas na sequência da invasão russa à Ucrânia.
A Moldova é um país predominantemente de língua romena, mas com uma forte minoria de língua russa, e o poder passa regularmente de pró-russos para pró-ocidentais, provocando uma série de crises políticas.
Igor Dodon presidiu a Moldova entre 2016 e 2020 e foi abertamente apoiado por Moscovo.
Após vários escândalos que envolveram Dodon e perante um cenário de crescimento da corrupção e da pobreza endémica no país, a pró-europeia Maïa Sandu acabou por vencer as eleições presidenciais e legislativas em 2020 e 2021.
Desde a ofensiva russa na Ucrânia, Chisinau tem demonstrado forte apoio a Kiev, acolhendo muitos refugiados, e candidatou-se a aderir à União Europeia, obtendo a promessa europeia de um aumento significativo da ajuda militar.
A Moldova, que abriga a Transnístria - território separatista pró-russo que declarou unilateralmente a independência no início dos anos 1990 -, teme que Moscovo escolha o país como o próximo alvo de uma ofensiva militar, sobretudo desde que a região secessionista disse, em abril, ter sido atingida por armas ucranianas.
A Rússia lançou, em 24 de fevereiro, uma ofensiva militar na Ucrânia que já matou quase quatro mil civis, segundo a ONU, que alerta para a probabilidade de o número real ser muito maior.
A guerra na Ucrânia causou já a fuga de mais de 14 milhões de pessoas das suas casas -- cerca de oito milhões de deslocados internos e mais de 6,1 milhões para os países vizinhos -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a II Guerra Mundial (1939-1945).
Também as Nações Unidas disseram que cerca de 15 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.
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