A decisão da polícia de esperar antes de confrontar o atirador na escola primária de Uvalde, no Texas, continua a gerar críticas nos Estados Unidos. Enquanto a investigação do Departamento de Segurança Pública do Texas à atuação da polícia decorre, vão sendo revelados mais detalhes sobre o que aconteceu durante aquela longa hora em que Salvador Ramos esteve barricado numa das salas de aula, onde matou 19 crianças e duas professoras.
Por cerca de 50 minutos, um grupo de 19 polícias esperou do lado de fora da sala pelas chaves e por equipamentos táticos. Enquanto isso, várias crianças ligaram repetidamente para o 911 a pedir ajuda.
"Ele está na sala 112", sussurrou uma menina ao telefone às 12h03. A mesma criança voltou a ligar a pedir que enviassem a polícia pelas 12h43 e, novamente, quatro minutos depois. Às 12h51, mais de 45 minutos depois da primeira chamada, uma equipa tática chegou.
Ao todo, foram feitas pelo menos oito chamadas para os serviços de emergência enquanto a polícia esperava do lado de fora.
Com críticas à resposta policial e pedidos crescentes para uma investigação independente, a demora no confronto com o atirador pode vir a gerar ações disciplinares, ações judiciais e até acusações criminais contra a polícia.
O coronel Steven McCraw, do Departamento de Segurança Pública do Texas, reconheceu erros na resposta da polícia ao tiroteio de terça-feira.
"Foi a decisão errada. Ponto final. Não há desculpa para isso", admitiu.
Thor Eells, diretor executivo da National Tactical Officers Association (NTAO), considera que as ordens do comandante da polícia foram "100% erradas" e até contrárias ao protocolo estabelecido para os casos em que há um atirador ativo numa escola.
Também Jonathan Wackrow, analista da CNN Internacional, frisa que os agentes são treinados para enfrentar a ameaça mesmo sob fogo cruzado porque "cada segundo conta".
"O que vimos aqui foi que o atraso custou a vida às crianças, ponto final", acrescentou.
"Odeio acreditar que algumas dessas crianças poderiam ter sido salvas se a polícia entrasse assim que ouviu os primeiros tiros. Isso é de partir o coração", disse outra fonte familiarizada com o incidente à Reuters.
De um modo geral, a visão dos especialistas é que o caso mostrou, mais uma vez, como uma resposta rápida pode salvar vidas.
Enquanto isso, os investigadores continuam a tentar perceber qual a motivação do atirador. Salvador Ramos, de 18 anos, não tinha antecedentes criminais nem qualquer histórico de doença mental, embora tenha feito algumas ameaças nas redes sociais que não foram levadas a sério.
Salvador Ramos entrou, na terça-feira, no estabelecimento de ensino munido com uma pistola e uma espingarda, vitimando 19 crianças e duas professoras. Foi abatido pela polícia. Ainda em casa, disparou sobre a avó, que se encontra hospitalizada em estado crítico.
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