Os chefes de Estado e de governo reunidos na capital do Gana vão analisar, à porta fechada, o cenário das três nações africanas "à luz dos recentes acontecimentos no contexto regional e global", disse o Presidente de Gana, Nana Akufo-Addo, na abertura da sessão entre os líderes dos 15 países membros da CEDEAO, entre os quais se contam a Guiné-Bissau e Cabo Verde.
A discussão irá, basicamente, decidir se os líderes da África Ocidental vão aliviar ou endurecer as sanções contra o Mali, o Burkina Faso e a Guiné.
"Esta reunião vai concentrar-se na instabilidade política que assola a região e no ressurgimento de golpes de Estado desde agosto de 2020", explicou Akufo-Addo.
Nenhum representante dos três países em questão marcou, até agora, presença na cimeira.
Um dos possíveis resultados desta cimeira será o levantamento das duras sanções impostas ao Mali em janeiro passado, depois de o país não ter cumprido a sua promessa de organizar eleições para fevereiro e ter pedido um período de transição de três anos, que depois reduziu para dois.
Essas medidas - que incluíram o bloqueio de contas dos membros da junta militar em bancos regionais, a retirada de embaixadores de Bamako e a suspensão da maioria das transações comerciais com o país - foram duramente criticadas por medo de que agravem a crise humanitária já existente.
Da mesma forma, a CEDEAO pode optar por impor sanções à Guiné-Conacri (depois de já ter estabelecido, em Setembro, algumas medidas contra os responsáveis pelo golpe) e ao Burkina Faso.
Na última cimeira da CEDEAO, realizada em 25 de março, a comunidade económica estabeleceu um prazo de um mês, até 25 de Abril, para as autoridades guineenses e do Burkina Faso apresentarem um calendário "aceitável" para o regresso à ordem constitucional.
No entanto, tanto o Burkina Faso como a Guiné-Conacri solicitaram uma prorrogação deste prazo, tendo a CEDEAO anunciado o envio de missões a ambos os países para avaliar a situação antes da cimeira de hoje.
Segundo o atual presidente da CEDEAO, o regresso à ordem constitucional "permitirá [a estes países] lidar melhor com os desafios humanitários e de segurança que enfrentam".
No último ano e meio, a região da África Ocidental sofreu quatro golpes, dois no Mali (agosto de 2020 e maio de 2021), um na Guiné-Conacri (setembro de 2021) e outro no Burkina Faso (janeiro de 2022).
Desde 2020, a CEDEAO, alarmada com o risco de contágio numa região vulnerável, multiplicou cimeiras, mediações e pressões para encurtar os chamados períodos de transição antes do retorno dos civis à liderança dos países.
No entanto, tem esbarrado na resistência dos novos homens fortes, o coronel Assimi Goïta, no Mali, o coronel Mamady Doumbouya, na Guiné-Conacri, e o tenente-coronel Paul-Henri Sandaogo Damiba, no Burkina Faso, todos entretanto investidos como presidentes.
Os novos governantes invocam a gravidade das crises que estão a enfrentar e pediram tempo para o que disseram ser "uma refundação" dos respetivos Estados e organização de eleições.
Um relatório da ONU indica que, no contexto de uma crise já aguda, as sanções "afetaram severamente" certos setores e "pioraram as condições de vida, em particular as dos pobres".
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