Guterres falava no lançamento do mais recente relatório, três meses após a invasão russa da Ucrânia, do "Global Crisis Response Group" das Nações Unidas sobre a forma como a guerra está a afetar pessoas em todo o mundo.
"As pessoas e os países vulneráveis já estão a ser duramente atingidos, mas não se enganem: nenhum país ou comunidade ficará intacto com esta crise de custo de vida", advertiu.
O secretário-geral da ONU insistiu em que "só há uma maneira de impedir esta tempestade: a invasão russa da Ucrânia tem de acabar", mas até lá há que agir.
Neste contexto, anunciou que duas 'task forces' - coordenadas por Rebeca Grynspan, responsável pelo órgão da ONU para o Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), e por Martin Griffiths, responsável pela ajuda humanitária - estão a trabalhar com todas as partes envolvidas para conseguir um acordo que permita "exportar através do Mar Negro alimentos produzidos pela Ucrânia" mas também "o acesso de alimentos e fertilizantes russos aos mercados globais".
Os dois grupos "têm trabalhado de perto com todas as partes" e nos últimos dez dias "mantiveram contactos diretos com Moscovo, Kiev, Ancara, Bruxelas e Washington", referiu Guterres, sem dar detalhes, pois dizer mais "poria em risco as hipóteses de sucesso", segundo referiu.
"Este acordo é essencial para centenas de milhões de pessoas nos países em desenvolvimento, incluindo na África Subsariana", sublinhou.
"O relatório deixa claro que o impacto da guerra na segurança alimentar, na energia e nas finanças é sistémico, severo e acelerado" e por isso, ao "derramamento de sangue e sofrimento" junta-se a ameaça de "uma onda sem precedentes de fome e destituição, deixando o caos social e económico".
Os preços dos alimentos estão perto de máximos históricos e os dos fertilizantes mais do que duplicaram, referiu o secretário-geral da ONU, para sustentar que "a crise alimentar deste ano tem a ver com a falta de acesso", mas "a do próximo ano pode ser de falta de comida".
Os preços recorde da energia vieram agravar o colapso económico devido à pandemia covid-19, como mostra o relatório, e o número de pessoas severamente atingidas por escassez de alimentos duplicou nos últimos dois anos.
O Programa Alimentar Mundial estima que os efeitos da guerra podem fazer aumentar em 47 milhões o número de pessoas que enfrentam uma grave insegurança alimentar em 2022, referiu ainda Guterres.
O secretário-geral da ONU pediu também a intervenção do sistema financeiro global para que sejam disponibilizados os fundos necessários aos governos para manterem a economia a funcionar, frisando que "será necessária uma ação global para resolver esta crise global".
A Rússia lançou na madrugada de 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que causou já a fuga de quase 15 milhões de pessoas de suas casas -- mais de oito milhões de deslocados internos e mais de 6,9 milhões para os países vizinhos -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Também segundo as Nações Unidas, cerca de 15 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.
A invasão russa -- justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e a imposição à Rússia de sanções que atingem praticamente todos os setores, da banca ao desporto.
A ONU confirmou hoje que 4.266 civis morreram e 5.178 ficaram feridos na guerra, que hoje entrou no seu 105.º dia, sublinhando que os números reais poderão ser muito superiores e só serão conhecidos quando houver acesso a zonas cercadas ou sob intensos combates.
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