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Evento com drag queen nos EUA interrompido por grupo supremacista branco

Os conservadores republicanos têm atacado a comunidade drag nos últimos tempos, procurando desviar a atenção do assunto da posse de armas nos Estados Unidos.

Evento com drag queen nos EUA interrompido por grupo supremacista branco
Notícias ao Minuto

11:21 - 13/06/22 por Notícias ao Minuto

Mundo Estados Unidos

Um evento com uma drag queen perto de São Francisco, no estado da Califórnia, foi interrompido no sábado por insultos homofóbicos pelos Proud Boys, um perigoso grupo de extrema-direita que ganhou proeminência durante o mandato de Donald Trump.

O 'Drag Queen Story Hour' (DQSH) é um evento destinado às crianças que existe desde 2015 em bibliotecas norte-americanas, com o objetivo de promover a inclusão da comunidade LGBTQ+ através de histórias infantis, músicas, jogos e outras atividades.

Citada pela NBC News, a organização com o mesmo nome que promove o evento, na biblioteca de San Lorenzo, contou que este foi interrompido por um grupo de cinco manifestantes de extrema-direita, claramente identificados com símbolos dos Proud Boys.

A NBC News noticia que a polícia local abriu uma investigação a alegados crimes de ódio por parte dos cinco homens, que gritaram "insultos homofóbicos e transfóbicos aos organizadores do evento". "Os homens foram descritos como sendo extremamente agressivos, com uma postura ameaçadora, provocando medo nas pessoas", acrescenta a força local.

Num comunicado, a DQSH acusou os homens de "gritar e incitar a ameaças violentas, traumatizando as crianças e as suas famílias".

Os Proud Boys são o grupo de extrema-direita mais conhecido dos Estados Unidos, atingindo uma dimensão internacional ao longo do mandato do antigo presidente, Donald Trump, que chegou a mencioná-lo num debate com Joe Biden. A organização é violenta, organizando eventos em que atacam manifestantes antirracistas, promovendo a supremacia branca e marchando com armas semiautomáticas e automáticas e equipamento militar.

O grupo é também um dos principais responsáveis pelo ataque ao Capitólio, em janeiro de 2021, e alguns dos seus líderes foram detidos e estão sob investigação pelo seu papel na invasão ao Congresso.

A 'Drag Queen Story Hour' deste sábado estava marcada para as 13h30, contando com a presença da drag queen Panda Dulce, com um programa destinado a crianças em idade de pré-primária. No site da organização não-governamental, a DQSH explica que estes eventos procuram criar "espaços nos quais as crianças podem ver pessoas que desafiam restrições de género e podem imaginar um mundo onde as pessoas podem apresentar-se como quiserem", através de "modelos queer glamorosos e positivos".

Alguns pais disseram também à NBC que acreditam que os eventos da DQSH são benéficos para as crianças, por promoveram inclusão e aceitação, e não encaram a introdução à comunidade drag como prejudicial para o desenvolvimento dos seus filhos.

Ataques transfóbicos na ordem do dia

O incidente deste fim de semana é o segundo no espaço de poucos dias, depois das autoridades norte-americanas terem detido 31 membros do grupo supremacista Patriot Front, que estariam a caminho de um evento 'Pride' no estado de Idaho. Numa carrinha, a polícia encontrou várias armas, desconhecendo-se a intenção final dos homens.

Estes ataques à comunidade drag e queer tornaram-se mais frequentes depois do governador do Texas, Greg Abbott, ter respondido a um evento drag com uma medida legislativa para impedir a organização de eventos com drag queens para crianças.

Os democratas acusam Abbott - um fiel aliado de Donald Trump, que tem promovido uma série de leis homofóbicas e transfóbicas no estado conservador do Texas - de procurar desviar o foco da questão da compra e posse de armas no país. A verdade é que, na sequência do tiroteio numa escola primária em Uvalde, no Texas, no qual morreram 19 crianças e dois professores, a liderança republicana tem pedido mais armas, uma maior presença policial nas escolas (algo que foi provado cientificamente que não resolve o problema dos tiroteios em massa) e procurou apontar o dedo à comunidade LGBTQ+ como fonte de uma suposta intoxicação infantil.

Sarah Kate Ellis, diretora da GLAAD (uma das maiores organizações não-governamentais de defesa da comunidade homossexual nos Estados Unidos), acusou os republicanos de incitar ao ódio de género, tanto nos órgãos legislativos como através da Fox News, a televisão conservadora.

"Invadir uma hora de histórias para crianças é repreensível. Nenhuma criança, família ou pessoa deve ser sujeita a este comportamento hostil e imperdoável. Esta retórica e incitamento à violência contra atores drag, pessoas LGBT e aliados pode ser diretamente atribuído a políticos que espalham desinformação", afirmou.

Leia Também: Ser drag queen. "No futuro, talvez não estejamos só nos espaços noturnos"

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