Um evento com uma drag queen perto de São Francisco, no estado da Califórnia, foi interrompido no sábado por insultos homofóbicos pelos Proud Boys, um perigoso grupo de extrema-direita que ganhou proeminência durante o mandato de Donald Trump.
O 'Drag Queen Story Hour' (DQSH) é um evento destinado às crianças que existe desde 2015 em bibliotecas norte-americanas, com o objetivo de promover a inclusão da comunidade LGBTQ+ através de histórias infantis, músicas, jogos e outras atividades.
Citada pela NBC News, a organização com o mesmo nome que promove o evento, na biblioteca de San Lorenzo, contou que este foi interrompido por um grupo de cinco manifestantes de extrema-direita, claramente identificados com símbolos dos Proud Boys.
A NBC News noticia que a polícia local abriu uma investigação a alegados crimes de ódio por parte dos cinco homens, que gritaram "insultos homofóbicos e transfóbicos aos organizadores do evento". "Os homens foram descritos como sendo extremamente agressivos, com uma postura ameaçadora, provocando medo nas pessoas", acrescenta a força local.
Num comunicado, a DQSH acusou os homens de "gritar e incitar a ameaças violentas, traumatizando as crianças e as suas famílias".
The men who stormed into “Drag Queen Story Hour” at the San Lorenzo Library were described as members of the Proud Boys Organization. @ACSOSheriffs says an active hate crime investigation is underway.
— Stephanie Magallon (@MagallonNews) June 12, 2022
Im told this video was taken once the situation was “calmer.” pic.twitter.com/5lJYXWZZkS
Os Proud Boys são o grupo de extrema-direita mais conhecido dos Estados Unidos, atingindo uma dimensão internacional ao longo do mandato do antigo presidente, Donald Trump, que chegou a mencioná-lo num debate com Joe Biden. A organização é violenta, organizando eventos em que atacam manifestantes antirracistas, promovendo a supremacia branca e marchando com armas semiautomáticas e automáticas e equipamento militar.
O grupo é também um dos principais responsáveis pelo ataque ao Capitólio, em janeiro de 2021, e alguns dos seus líderes foram detidos e estão sob investigação pelo seu papel na invasão ao Congresso.
A 'Drag Queen Story Hour' deste sábado estava marcada para as 13h30, contando com a presença da drag queen Panda Dulce, com um programa destinado a crianças em idade de pré-primária. No site da organização não-governamental, a DQSH explica que estes eventos procuram criar "espaços nos quais as crianças podem ver pessoas que desafiam restrições de género e podem imaginar um mundo onde as pessoas podem apresentar-se como quiserem", através de "modelos queer glamorosos e positivos".
Alguns pais disseram também à NBC que acreditam que os eventos da DQSH são benéficos para as crianças, por promoveram inclusão e aceitação, e não encaram a introdução à comunidade drag como prejudicial para o desenvolvimento dos seus filhos.
Ataques transfóbicos na ordem do dia
O incidente deste fim de semana é o segundo no espaço de poucos dias, depois das autoridades norte-americanas terem detido 31 membros do grupo supremacista Patriot Front, que estariam a caminho de um evento 'Pride' no estado de Idaho. Numa carrinha, a polícia encontrou várias armas, desconhecendo-se a intenção final dos homens.
Estes ataques à comunidade drag e queer tornaram-se mais frequentes depois do governador do Texas, Greg Abbott, ter respondido a um evento drag com uma medida legislativa para impedir a organização de eventos com drag queens para crianças.
Os democratas acusam Abbott - um fiel aliado de Donald Trump, que tem promovido uma série de leis homofóbicas e transfóbicas no estado conservador do Texas - de procurar desviar o foco da questão da compra e posse de armas no país. A verdade é que, na sequência do tiroteio numa escola primária em Uvalde, no Texas, no qual morreram 19 crianças e dois professores, a liderança republicana tem pedido mais armas, uma maior presença policial nas escolas (algo que foi provado cientificamente que não resolve o problema dos tiroteios em massa) e procurou apontar o dedo à comunidade LGBTQ+ como fonte de uma suposta intoxicação infantil.
Sarah Kate Ellis, diretora da GLAAD (uma das maiores organizações não-governamentais de defesa da comunidade homossexual nos Estados Unidos), acusou os republicanos de incitar ao ódio de género, tanto nos órgãos legislativos como através da Fox News, a televisão conservadora.
Lawmakers and Governors like DeSantis and Abbott, along with their co-conspirators at Fox News, better pause today and recognize that their anti-LGBTQ rhetoric and the nearly 250 anti-LGBTQ bills introduced this year are responsible for this dangerous climate. https://t.co/FzUwpmMj4W
— Sarah Kate Ellis (@sarahkateellis) June 12, 2022
"Invadir uma hora de histórias para crianças é repreensível. Nenhuma criança, família ou pessoa deve ser sujeita a este comportamento hostil e imperdoável. Esta retórica e incitamento à violência contra atores drag, pessoas LGBT e aliados pode ser diretamente atribuído a políticos que espalham desinformação", afirmou.
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