Vários parceiros internacionais do país da África Oriental suspenderam a ajuda desde o início, em novembro de 2020, de um conflito entre o governo federal e os rebeldes na região de Tigray, situação marcada por inúmeros abusos e que levou a uma grave crise humanitária.
Em comunicado, o Ministério das Finanças da Etiópia anunciou a assinatura de um "acordo de financiamento" entre a Etiópia e o BM que abrange, em primeiro lugar, 600 milhões de dólares (200 milhões de dólares em donativos e 400 milhões em créditos) para o estabelecimento de o Programa de Resiliência de Sistemas Alimentares (FSRP)".
O acordo prevê ainda 115 milhões de dólares sob a forma de subvenção, no âmbito do programa "Reduzir riscos, integrando e melhorando o valor das economias pastorícias no Corno de África (Drive, na sigla em inglês)", explicou a mesma fonte.
Os fundos libertados ao abrigo do FSRP "serão utilizados para financiar a melhoria da resiliência dos sistemas alimentares e dos mecanismos de preparação para a insegurança alimentar" em determinadas áreas, adiantou o ministério.
Já os fundos do programa Drive "serão utilizados para melhorar o acesso dos membros das comunidades agro-pastoris aos serviços financeiros, para mitigar os riscos relacionados com a seca, incluí-los na cadeia de valor e facilitar o comércio de gado no Corno da África".
Lançado em novembro de 2021, o FSRP visa "aumentar a produtividade agrícola (...), promover as cadeias de valor e o comércio intrarregional e fortalecer as capacidades regionais de gestão de risco agrícola".
O programa Drive foi adotado em 23 de junho "para amortecer os impactos da seca nas comunidades agro-pastoris em Djibuti, Etiópia, Quénia e Somália e conectá-las melhor aos mercados", apontou o BM.
Uma seca sem precedentes está a dizimar rebanhos no Corno de África, privando comunidades agro-pastoris de recursos e ameaçando mais de 16 milhões de pessoas com fome, segundo dados das Nações Unidas.
Em abril, o BM concedeu uma doação de 300 milhões de dólares à Etiópia, para "reabilitar e reparar as infraestruturas destruídas pelo conflito" e "em particular para melhorar o acesso a serviços essenciais para as populações afetadas", tornando-se a primeira instituição financeira a libertar fundos para a Etiópia desde o início da guerra.
Alguns analistas apontaram uma ligação entre doação e o anúncio, dias antes, pelo governo etíope de uma "trégua humanitária", exigida por Washington.
O novo financiamento do BM ocorre poucos dias depois do anúncio do primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, de um comité para estudar possíveis negociações de paz com os rebeldes da Frente de Libertação do Povo Tigray (TPLF).
A região do Corno de África é palco de vários conflitos, nomeadamente a guerra entre o Governo central da Etiópia e os rebeldes FPLT, que em mais de dois anos deixou cerca de 9,4 milhões de pessoas a precisar de ajuda humanitária.
No Sudão do Sul -- que enfrenta uma guerra há nove anos, apesar dos acordos de paz de 2018 -, os serviços sociais mais básicos, como a saúde ou a educação, dependem em grande medida das organizações não-governamentais.
O grupo 'jihadista' Al Shabab, afiliado no grupo extremista Al Qaida desde 2012, perpetra ataques frequentes na capital da Somália, Mogadíscio, e em outros pontos do país para derrubar o Governo central e instaurar pela força um Estado islâmico ultraconservador.
Estes extremistas realizaram também atentados em outros países da região, como o Quénia e o Uganda.
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