A organização não-governamental (ONG) The Sentry publicou em agosto de 2021 um relatório em que afirma que a Sucaf RCA, uma subsidiária da Société d'Organisation, de Management et de Développement des Industries Alimentaires et Agricoles (Somdiaa), ela própria controlada em 87% pelo grupo Castel, tinha "negociado um acordo de segurança" com a Unité pour la paix en Centrafrique (UPC), um grupo armado acusado de exações.
De acordo com os advogados da The Sentry e fontes não identificadas do gigante francês das bebidas à agência France Presse, a justiça francesa abriu hoje um inquérito preliminar em resposta ao relatório.
O "arranjo" visava "assegurar" a segurança da sua "fábrica e campos de cana de açúcar" e "tentar proteger o monopólio da empresa", segundo a ONG especializada na investigação de dinheiro sujo, cofundada pelo ator norte-americano George Clooney e pelo ativista dos direitos humanos John Prendergast.
Em troca da segurança do local, a Sucaf RCA criou um "sistema sofisticado e informal para financiar milícias armadas através de pagamentos diretos e indiretos em dinheiro, bem como apoio em espécie sob a forma de manutenção de veículos e abastecimento de combustível", de acordo com a The Sentry.
"Congratulamo-nos com a abertura desta investigação, que deverá lançar luz sobre as possíveis responsabilidades de empresas e indivíduos, particularmente de nacionalidade francesa, na comissão de crimes internacionais de extrema gravidade", comentaram Clémence Witt e Anaïs Sarron, advogadas da The Sentry, num comunicado.
A "Castel toma nota da abertura desta investigação", disse uma fonte próxima do grupo à AFP, assegurando que o grupo tem uma "atitude de plena cooperação com a justiça".
O grupo Castel é proprietário de várias marcas de vinho como a Baron de Lestac e Listel, ou a loja de vinhos Nicolas. O grupo está também presente em África, onde produz refrigerantes.
"Após uma investigação interna abrangente (oito meses de investigação, 45.000 emails, 22 audiências, metade das quais em Bangui e Ngakobo) que refutaram totalmente as alegações da The Sentry, a acusação quer saber quem se esconde por detrás das testemunhas anónimas, com base nas quais o relatório da ONG foi levado a cabo", afirmou o advogado da Somdia, Pierre-Olivier Sur, à AFP.
Sur denunciou ainda o que considerou a "tentativa de desestabilizar uma das últimas bandeiras do agronegócio francês em África" e garantiu que um "processo por difamação" irá seguir-se "necessariamente".
Leia Também: Mutilação genital e casamentos infantis duplicaram no Corno de África