Separatistas apoiados pela Rússia apreenderam dois navios comerciais de bandeira estrangeira na cidade portuária ucraniana de Mariupol, destacando que estes são agora "propriedade do Estado", mostram certos documentos a que a Reuters teve acesso.
A autoproclamada República Popular de Donetsk, através do seu Ministério dos Negócios Estrangeiros, terá já informado duas companhias de navegação de que os seus navios tinham sido objeto de "apropriação forçada de bens móveis com conversão forçada em propriedade estatal", sem qualquer compensação para os proprietários, dão conta as cartas acedidas pela Reuters.
A Smarta Shipping, empresa liberiana detentora do navio Smarta (um dos navios apreendidos pelas forças separatistas), disse ter sido informada a 30 de junho, por e-mail, da apreensão. Na perspetiva da companhia, a mesma é ilegal e "contra todas as normas do direito internacional".
"Esta apropriação forçada constitui uma violação dos direitos humanos fundamentais no que diz respeito aos direitos de propriedade", afirmou ainda a empresa, numa declaração. "Tal ação constitui uma séria ameaça para a navegação e para a segurança marítima", acrescentou ainda.
Segundo a Smarta Shipping, o navio em causa chegou a Mariupol a 21 de fevereiro, para transportar uma carga de aço, tendo sido depois, a 20 de março, atingida por bombardeamentos que o danificaram seriamente. Segundo a mesma fonte, os 19 membros que compunham a sua tripulação teriam sido levados à força, pelos militares russos, para Donetsk - tendo sido libertados um mês mais tarde.
A outra embarcação apreendida foi a Blue Star I, com bandeira do Panamá, noticia ainda a Reuters. Um funcionário da Fetida Maritime, empresa responsável pela embarcação, recusou-se a comentar o caso, acrescentando que os serviços de segurança da Ucrânia tinham já toda a informação.
Um funcionário do Ministério dos Negócios Estrangeiros ucraniano disse, por sua vez, ter conhecimento de um anúncio feito pela "autoridade de ocupação russa em Donetsk no sentido de criar uma frota 'nacional' composta por navios que tinham roubado em Mariupol".
Dados da Organização Marítima Internacional (OMI) dão conta de que mais de 80 navios de bandeira estrangeira permanecem presos nos portos ucranianos, alguns dos quais permanecem sob controlo russo.
De recordar que Mariupol está sob o controlo das forças russas e separatistas desde maio, após as tropas ucranianas terem sucumbido a um cerco à cidade que durou meses.
Neste momento, a Rússia tem concentrado as suas investidas militares, especialmente, nas regiões de Donetsk e Lugansk, que declararam a sua independência face à Ucrânia já em 2014. Isto, claro está, com o objetivo de conquistar integralmente a região do Donbass.
Segundo os mais recentes dados da Organização das Nações Unidas (ONU), mais de 4.000 morreram na sequência dos combates no terreno. No entanto, a organização alerta que o número real de vítimas poderá ser muito superior, dadas as dificuldades em contabilizar baixas civis em territórios controlados ou sitiados pelos russos.
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